O que aconteceria se misturássemos o conteúdo de programas como Polícia 24 Horas e Cidade Alerta, com um romance cyberpunk futurístico? Provavelmente algo como Rio: Zona de Guerra, o primeiro livro do escritor e advogado carioca Leo Lopes. Publicado pela editora AVEC em 2014, o enredo será adaptado para o cinema ainda esse ano e por isso, resolvemos falar dele no Ler é Bom, Vai!
“Em um futuro próximo, as desigualdades sociais e econômicas chegaram a níveis tão alarmantes que o Estado não tem condições de manter a ordem e garantir a segurança pública. Todo o poder é concentrado nas mãos de megacorporações multinacionais que criam e impõem as leis por meio de suas milícias particulares, chamadas Polícias Corporativas. No Rio de Janeiro, a Fronteira, uma muralha intransponível que cerca a Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes, protege os interesses das megacorporações, relegando os habitantes dos demais bairros a uma vida sem lei em um território dominado pelas gangues. Tudo pode acontecer quando o assassinato de uma prostituta no edifício de uma megacorporação leva um detetive particular a voltar para a Barra da Tijuca após anos de exílio no que todos se acostumaram chamar de Zona de Guerra.”
Confesso que no começo criei um certo preconceito com a escolha do autor pelos bairros “nobres” e por aqueles que representam a Zona de Guerra, mas depois compreendi que seu real interesse foi ilustrar mais ou menos o que temos hoje. Vivemos em uma sociedade onde as desigualdades sociais e econômicas só crescem – e tendem a crescer ainda mais – e segregam cada vez mais a chamada “elite”. Nosso Estado já entrou em colapso, então para chegarmos aonde Leo Lopes escreveu basta os flutuadores e os holovisores.
Como foi possível perceber na sinopse, a história se passa no Rio de Janeiro, onde um muro gigantesco chamado de Fronteira divide a cidade em dois lados: “o lado de fora” e a Zona de Guerra, liderada por gangues armadas até os dentes. Nada estava fora do normal até uma prostituta ser encontrada morta no andar térreo de uma megacorporação, o que foi tratado como suicídio. Amigos próximos a ela, porém, discordam do ocorrido e contratam um detetive particular para investigar o assassinato. Entra em cena o detetive Carlos Freitas, que a partir do primeiro momento em que surge, se torna o protagonista da história. Ele é o herói da comunidade e o terror dos corporativos, famoso por sua arma Princesa e pela inteligência, além de seu jeito bruto e do repertório cheio de palavrões. Sem encaixar-se na vida luxo da Fronteira, ele se mudou para Zona de Guerra – especificamente no Méier – e tem vivido sua vida desde então. Após 6 anos na área de conflito Freitas é contratado por Vivian, uma prostituta de luxo, para investigar a morte do lado de fora da megacorporação. É apenas o começo dos melhores e piores dias de sua vida.
Recebi o livro da Editora Avec e logo gostei da capa, mas confesso que pensei tratar-se de uma histórias em quadrinhos ou algo do gênero. Um livro curto, com páginas grossas, um cenário futurista e nomes que parecem terem sido criados por um adolescente não me pareceu algo promissor, mas terminei Rio: Zona de Guerra feliz por ter começado a ler. Não há uma profundidade trama, então não esperem por algo denso e complexo de se entender. Leo Lopes desenvolveu algo objetivo e bem direto em seu objetivo principal, só cabendo ao leitor abrir a cabeça e dar uma chance para o novo autor.
“- Você foi embora!!! Você acha que aquilo lá é ruim? Você não sabe as coisas que eu tive que fazer para sobreviver aqui dentro. A Zona de Guerra pode ser o Inferno, mas o Diabo mora dentro da Fronteira.”
A trama de Lopes possui diversas semelhanças o o cenário atual do país e da sociedade, cada vez mais dependente de tecnologias e bitolada com o que ela pode fazer. Os apartamentos, as armas, os carros e até os corredores possuem inteligências artificiais que reconhecem os proprietários, não existe mais privacidade em qualquer lugar dentro da Fronteira, assim como dinheiro. Os escambos são feitos por meio de créditos calculados por um dispositivo chamado BPM – Banco Pessoal de Memória, que os realiza em tempo real com uma velocidade impressionante. A desigualdade é tanta que não existem mais cadeias, uma vez que ao serem presos, os criminosos são exilados para a Zona de Guerra.
Rio: Zona de Guerra tem uma narrativa simples e tranquila de ver, além de poucas páginas e um vocabulário bastante moderno – com direito a muitos palavrões. Não estamos lidando com um clássico da literatura ou um enredo denso e complexo, mas sim algo que retrate a sociedade como ela está destinada a ser. A ilustração da capa acompanha as intenções do livro, e além de ser muito bem desenhada, é jovem e atraente. Leo Lopes poderia ter interligado melhor os capítulos, visto que não há aquele término que nos dê vontade de ler compulsivamente tudo de uma vez. Fora isso não há muito o que criticar, pois a obra em questão é um bom livro, com um desfecho surpreendente e um desenvolver prático para o leitor.