Wicked Wicked

Wicked | Crítica

Grandioso e icônico, a primeira parte da adaptação da Broadway desafia a gravidade e se torna em um clássico moderno da fantasia atual.
Divulgação.

A proposta de transportar uma mídia para outra requer habilidade. Seja livros, jogos ou peças de teatro, cada formato possui singularidades que tornam o material original único. No caso de Wicked, é essencial transpor a emoção e a mensagem política que a peça da Broadway apresentou em 2003, inspirada vagamente no romance de Gregory Maguire.

O musical, composto por Stephen Schwartz marcou gerações de fãs. Vencedor de três Tony Awards, a produção original da Broadway também recebeu um Grammy pela trilha sonora. Desde 2003, a história não contada das bruxas de Oz se tornou um fenômeno e ganhou diversas adaptações ao redor do mundo. No Brasil, as atrizes Fabi Bang, como Glinda, e Myra Ruiz, como Elphaba, deram vida às protagonistas.

Nesta expansão do universo, acompanhamos os eventos que antecedem o filme O Mágico de Oz (1939). A história foca em Elphaba, uma jovem de pele verde que se tornará a “Bruxa Má do Oeste”. Com grande potencial, ela entra na Universidade de Shiz, uma escola para bruxos e bruxas. Lá, conhece Glinda, que futuramente será “Glinda, a Bruxa Boa”. Apesar da aparente magia e bondade, a Terra de Oz esconde segredos que colocam a amizade entre as duas em uma encruzilhada perigosa.

O maior acerto desta adaptação foi dividi-la em duas partes. Embora a conclusão ainda não tenha sido exibida, o primeiro ato do filme é uma das produções mais divertidas e envolventes de 2024. Durante suas 2h40m, somos apresentados ao conceito desse universo e às regras que o regem, como os preconceitos e o autoritarismo enraizados na sociedade de Oz, muitas vezes disfarçados por falsos sorrisos.

Minha experiência ao assistir Wicked foi de alguém que não viu a peça da Broadway. Ainda assim, a primeira parte dessa história é clara e compreensível. Sem pressa, o diretor John M. Chu (Podres de Rico) soube que este projeto dependia de transportar a essência do material original para as telas. Voltado para os amantes de musicais, o filme é um presente para os fãs da peça.

Um dos desafios mais delicados dessa adaptação era o elenco. Recriar a emoção transmitida por Idina Menzel e Kristin Chenoweth como Elphaba e Glinda era uma tarefa ousada. Felizmente, Cynthia Erivo e Ariana Grande honram o legado das atrizes originais, sendo o coração (e os pulmões) desta versão cinematográfica.

A química entre elas era essencial para transmitir a alma da história ao público. Embora a atuação de Ariana Grande não seja o maior destaque, sua performance ganha força ao contracenar com Erivo, vencedora de um Tony, um Grammy e um Emmy. Cynthia entrega uma interpretação de tirar o fôlego. Sua voz, olhares e a coragem como Elphaba emocionam até mesmo quem não aprecia musicais. É evidente que ambas estavam completamente imersas em suas personagens, oferecendo o máximo para alcançar o nível do material original. Prepare-se para se arrepiar com suas vozes.

O ano de 2024 mostrou exemplos de como fazer – e não fazer – um musical. Enquanto Coringa: Delírio a Dois parece ter vergonha de assumir seu lado musical, é reconfortante ver como Wicked explora o gênero com maestria.

Do início ao fim, as performances são bem produzidas e dirigidas, integrando-se perfeitamente ao roteiro. A história, repleta de momentos emocionantes e épicos, é amplificada por cenários deslumbrantes, arranjos e melodias que acompanham seu tom grandioso.

Até mesmo atores como Jeff Goldblum, Michelle Yeoh e Peter Dinklage se destacam com seus talentos vocais, ainda que de maneira mais contida em relação às protagonistas.

O ponto que merece atenção é a duração do filme. Com quase três horas, a narrativa se torna um pouco densa em alguns momentos, como se certas cenas pudessem ser resumidas ou eliminadas. Adaptar uma obra para outro formato exige sacrifícios e ajustes, o que nem sempre é plenamente realizado aqui.

Entretanto, esse detalhe não compromete a grandiosidade da adaptação. Entre os diversos acertos, o maior foi priorizar o que os fãs gostariam de ver e honrar todo o amor por uma história que marcou gerações.

Se você ama o material original, leve lencinhos ao cinema – as chances de se emocionar são altas. Caso nunca tenha ouvido falar de Wicked, dê uma chance. Assim como eu, você pode sair encantado e desafiando a gravidade.

Wicked estreia em 21 de novembro nos cinemas de todo o país, também com versões acessíveis, legendadas e dubladas. A distribuição é da Universal Pictures.

4

Muito bom

Com atuações emocionantes de Ariana Grande e Cynthia Erivo, Wicked adapta com perfeição a magia da Broadway para as telonas.