Salamandra | Crítica Salamandra | Crítica

Salamandra | Crítica

Um drama que desafia e provoca
Divulgação/Pandora Filmes

Em sua estreia como diretor, Alex Carvalho apresenta Salamandra, uma obra que, antes mesmo de sua entrada no circuito nacional pela Pandora Filmes, já carregava consigo o peso das expectativas geradas por suas exibições em renomados festivais como o de Veneza e a 45ª Mostra Internacional de São Paulo, em 2021. Filmado na vibrante cidade de Recife e inspirado no romance do autor francês Jean-Christophe Rufin, o longa explora a profundidade das experiências humanas através de temas universais como recomeço, feridas não cicatrizadas e os perigos de viver a vida de forma visceral e intensa. Salamandra é um convite a um mergulho sensorial e emocional na busca incessante pela liberdade e redenção.

Salamandra | Crítica

 

A trama segue os passos de Catherine, interpretada com notável intensidade por Marina Foïs, uma mulher francesa que, após anos dedicados ao cuidado de seu pai, se vê aprisionada pelo peso de suas responsabilidades e pela monotonia de sua vida em Paris. Sua decisão de se exilar temporariamente em Recife é movida pelo desejo de reavivar a conexão com sua irmã e encontrar algum sentido perdido em meio ao caos de sua existência. Recife, com seu calor e vitalidade, contrasta fortemente com a frieza de sua vida passada, proporcionando a Catherine um espaço de introspecção e exploração, tanto emocional quanto física.

O encontro de Catherine com Gil, um jovem carismático vivido por Maicon Rodrigues, torna-se o catalisador de sua transformação. Gil, com sua energia vibrante e perspectiva de vida desenfreada, representa para Catherine uma liberdade que ela nunca conheceu. A química entre Foïs e Rodrigues é palpável, resultando em uma relação que, embora inesperada, é intensamente real e carregada de significados. Catherine vê em Gil uma chance de se reconectar com sua própria vitalidade, enquanto Gil encontra em Catherine alguém que o vê além de suas circunstâncias e origem. Essa relação, embora repleta de paixão e desejo, é igualmente marcada pela fragilidade de ambos, como se cada toque fosse uma tentativa desesperada de firmar-se em um mundo instável.

A direção de Carvalho em Salamandra é marcada por uma sensibilidade apurada e uma estética que se apropria da exuberância de Recife para intensificar a narrativa. As paisagens e a arquitetura da cidade não são meros cenários, mas elementos intrínsecos que amplificam a experiência dos personagens, refletindo suas angústias e aspirações. A câmera de Carvalho captura momentos de intimidade com uma crueza que é ao mesmo tempo poética e perturbadora, tornando cada cena uma exploração visual das emoções conflitantes de Catherine e Gil. O uso do som e da música local também contribui para a construção de um ambiente imersivo que ressoa com a alma inquieta dos personagens.

No entanto, é no terceiro ato que Salamandra tropeça em sua ambição. A estrutura que antes sustentava a tensão emocional e narrativa começa a desmoronar sob o peso de suas próprias expectativas. O desfecho, que deveria ser o clímax de uma jornada de autodescoberta e libertação, se apresenta como um anticlímax, deixando uma sensação de algo inacabado. A tentativa de Carvalho de amarrar as pontas soltas resulta em um final que parece apressado e, por vezes, incoerente com o desenvolvimento anterior dos personagens. O que poderia ter sido uma conclusão poderosa e catártica acaba por ser um pouco insatisfatória, desviando-se do impacto que o filme vinha construindo com tanto cuidado.

Salamandra se destaca como uma obra que desafia e provoca. A intensidade de suas performances, a autenticidade de seu ambiente e a profundidade de suas explorações emocionais fazem deste um filme que, apesar de suas imperfeições, merece ser visto e refletido. Alex Carvalho demonstra uma notável promessa como diretor, trazendo à tona a complexidade da experiência humana através de uma lente que é ao mesmo tempo íntima e expansiva. Salamandra nos lembra que, mesmo nas tramas mais turbulentas da vida, há sempre uma centelha de redenção esperando para ser descoberta, por mais breve que seja.

3

BOM

Salamandra nos lembra que, mesmo nas tramas mais turbulentas da vida, há sempre uma centelha de redenção esperando para ser descoberta, por mais breve que seja.