Rede de Ódio | Crítica |

Rede de Ódio

Rede de Ódio é mais um achado da Netflix, que vem demonstrando eficiência ao trazer para a plataforma de streaming, filmes de outros polos. O longa polonês é dirigido por Jan Komasa, o mesmo de Corpus Christi, um dos indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na última edição da premiação.

Embora a sinopse da Netflix não colabora muito para quem está procurando um ótimo filme, Rede de Ódio é complexo demais para reservar algumas palavras para descreve-lo.

O filme é sobre ambição, ódio e amor. Sentimentos que juntos podem causar uma avalanche de situações irreparáveis. A trama começa apresentando Tomasz Giemza (Maciej Musialowski), um jovem estudante de Direito na Polônia. Vindo do interior, o rapaz busca a ascensão, o status social. Mas seus fins acabam atrapalhando sua trajetória quando decide plagiar um trabalho na faculdade e acaba sendo expulso do curso. Logo descobrimos que Tomasz não possui renda alguma e estuda devido ao auxílio financeiro de uma família rica do seu interesse amoroso, a problemática Gabi Krasucka (Vanessa Aleksander).

É interessante fazer um paralelo entre os jovens Tomasz e Gabi. É fácil perceber que Tomasz tem uma vida difícil e com poucas oportunidades por ser de uma família pobre. Já Gabi, é uma jovem de família rica, mimada e que tem tudo em suas mãos. Mas, a garota desperdiça se drogando e virando noites em boates. De início, Tomasz  mais parece vítima de uma sociedade individualista e que o trata como lixo. Quando põe uma escuta na casa da família de Gabi e ouve o que pensam dele, nos identificamos com Tomasz sobre as disparidades sociais.

Todo esse ambiente hostil e tóxico, torna Tomasz uma pessoa fria, calculista e manipuladora. A direção de Komasa não busca indicar quem é vilão ou mocinho na história. Ele aponta o lado obscuro do ser humano. Tomasz simboliza aqueles que se deixam contaminar pelas frustrações pessoais. Esse sentimento o impulsiona a tomar decisões perversas e egoístas. Tomasz começa a pensar apenas em seu benefício próprio. E o ambiente da internet se torna seu playground, onde ele será capaz de atingir seus alvos de forma anônima.

A narrativa de Rede de Ódio vai mais afundo quando coloca em pauta uma crise política no país. De um lado os conservadores e do outro lado aqueles que buscam uma liberdade de ir e vir. Mais uma vez, Jan Komasa não escolhe defender um lado, mas aponta que extremismo/radicalismo está presente em ambos os lados. Munido de sua inteligência e sagacidade, Tomasz estabelece uma guerra entre as duas frentes, onde apenas ele sairá favorecido. Quando consegue o emprego de uma empresa de mídia social, ele se torna um monstro invisível criando fake news e deturpando a imagem de figuras públicas.

É evidente que as motivações do protagonista são pessoais. Tomasz busca uma aceitação pessoal e ser correspondido a qualquer custo. Contudo, esse comportamento se torna obsessivo e ele extrapola os limites, invadindo a privacidade das pessoas para encontrar seus pontos fracos e cria uma onda de terror na internet com suas mentiras. Apesar de ser ambientado na Polônia, a crise política abordada no filme se torna deveras semelhante com a situação caótica nos últimos anos no Brasil devido as investigações de fake news nas últimas eleições presidenciais.

Existe apenas um incômodo no longa. A forma fácil que Tomasz ganha a confiança das pessoas, principalmente, do candidato à prefeitura Pawel Rudnicki (Maciej Stuhr), que rapidamente vê o garoto como alguém de confiança ao ponto de sair para tomar uma drinque. Por outro lado, a performance de Maciej Musialowski é magnética, metódica, capaz de tornar Tomasz um encantador de serpentes.


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Rede de Ódio é um excepcional suspense, sem dúvidas na lista dos melhores do ano. O longa de Jan Komasa traz assuntos universais, com cada pauta discutida na fita se tornando relevante. Um convite para refletirmos sobre cada curtida, comentário ou compartilhamento nas redes sociais. Um simples impulso, por mais inocente que seja, pode gerar uma grande bola de neve e acabar sendo tarde demais.

5

Excelente

Um convite para refletirmos sobre cada curtida, comentário ou compartilhamento nas redes sociais. Um simples impulso, por mais inocente que seja, pode ocasionar um impacto social, que pode ser impossível de ser reparado.

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