O Diabo de Cada Dia | Crítica

O Diabo de Cada Dia | Crítica
Reprodução/Netflix

O Diabo de Cada Dia, lançamento da Netflix do último dia 16 de setembro, é de longe o filme mais soturno da plataforma de streaming. Temas densos, profundos e que fazem refletir sobre a situação atual de nossa sociedade. Violência, loucura e corrupção continuam bastante em pauta em pleno 2020.

Baseado no romance de Donald Ray Pollock, de 2011, o filme entrelaça várias histórias e como os caminhos dela se cruzam, sempre com um destino deveras trágico. Situado na zona rural do sul de Ohio, em uma cidade chamada Knockemstiff, o longa é narrado pelo próprio Pollock que pontua essas figuras sombrias e bizarras.

A trama inicia no pós-guerra do Vietnã, com Willard Russell (Bill Skarsgård) voltando para sua cidade natal, mas ainda com as sequelas da guerra. A cidade onde vive é cercada pela fé, uma fé cega e que faz as pessoas tomarem atitudes drásticas. A vida trágica de Willard reflete em seu filho, Arvin (Tom Holland), que desde pequeno sofreu com o comportamento violento do pai. Indo morar com a avó e tio, ele cresce ao lado de Lenora (Eliza Scanlen), que teve uma infância parecida com a de Arvin. Extremamente devota, ela conhece o novo Pastor da Igreja, vivido por Robert Pattinson, que mostra ser um sujeito muito suspeito. Enquanto isso, o xerife da cidade (Sebastian Stan) está mais preocupado com a futura promoção do que em seguir as normas da lei, enquanto tenta encobrir as tramoias da irmã Sandy (Riley Keough) e seu parceiro Carl (Jason Clarke), que revelam ser uma dupla de assassinos seriais.

Dirigido por Antonio Campos, que também co-escreveu a adaptação com Paulo Campos, O Diabo de Cada Dia possui algumas falhas de transição quando a narrativa salta e volta no tempo. Com mais de 2h de duração, o ritmo lento pode prejudicar a experiência no início. Contudo, o cineasta foi agraciado por um elenco afiado e talentoso. Todos os personagens se tornam interessantes graças às performances dos atores. Todos se entregam.

Com várias histórias entrelaçadas, cada personagem tem sua história pra contar. Talvez a do Xerife Lee, vivido por Stan, seja a menos atrativa. Contudo, o ator está muito bem no papel de um policial corrupto. Riley Keough e Jason Clarke vivem um casal de serial killers insanos e responsáveis por atos sempre inesperados. Apesar da pequena participação, Robert Pattinson desempenha mais uma atuação brilhante. O Batman da versão de Matt Reeves, encarna um lobo na pele de cordeiro como o Pastor da Igreja. Pela postura e tom de voz arrogante, ele irá causar muita repulsa. Mas o Pastor é articuloso e se aproveita da fé e inocência daquele povo, manipulando os fiéis com seu jogo de palavras.

Tom Holland pode ser definido como protagonista, já que todas as histórias se cruzam com a dele. E o jovem ator não decepciona. Arvin foi quem mais sofreu na pele as consequências da má utilização da fé. A devoção não está presente para tirar vidas, mas para conforta-las. E sua vida foi marcada por tragédias. Mas, o jovem aprendeu uma coisa importante com o pai Willard. Saber revidar. Vingança. E o último ato é o brilhantismo puro de Holland no papel, mostrando ser um ator em plena maturidade.


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O Diado de Cada Dia é um filme para chacoalhar, causar impacto em quem está assistindo. A violência e perversidade sempre presente na narrativa não está ali por acaso. É um reflexo do quanto involuímos e fracassamos como seres humanos.

3

Bom

O Diado de Cada Dia é um filme para chacoalhar, causar impacto em quem está assistindo. A violência e perversidade sempre presente na narrativa não está ali por acaso.