Malcolm & Marie [Crítica]

Malcolm & Marie [Crítica]
Reprodução/Netflix
Malcolm & Marie, novo filme da Netflix, foi produzido por Sam Levinson (criador de Euphoria). O longa foi desenvolvido durante a pausa da série da HBO, chamando a atenção da protagonista Zendaya, que se logo se interessou em fazer o filme com o Levinson. Contudo, seria complicado fazer o projeto sair do papel devido à pandemia do COVID-19. Sendo assim, o elenco e uma pequena equipe seguiram um protocolo de segurança aprovado pelos médicos e pelo sindicato, envolvendo vários testes COVID-19 e um período rigoroso de quarentena de duas semanas em Monterey.

Esse foi o período que Malcolm & Marie levou para ser criado. É um filme intimista sobre um casal lavando a roupa suja em casa, expondo suas fragilidades e medos. John David Washington (Tenet) interpreta Malcolm, o par de Marie, vivido por Zendaya. Movidos por um texto muito bem escrito por Sam Levinson, Malcolm & Marie é um filme bastante reflexivo e não deixa de ser uma conversa do diretor com o seu público. Em Euphoria, a personagem Rue representa a juventude conturbada de Sam Levinson, que superou o vício em drogas no passado. Acredito que Malcolm e Marie sejam personas do diretor de diferente passagens da vida. Marie representa seu período mais complexo, enquanto Malcolm é uma persona mais atual de Levinson, já que John David Washington encarna um diretor de cinema que acabara de lançar um filme.

A narrativa começa quando um casal retorna de uma festa de lançamento de um filme dirigido por Malcolm. O que seria uma noite de celebração, acaba se tornando uma longa discussão quando Marie expõe seu descontentamento por não ter recebido nenhum crédito no filme, já que a jovem ajudou o companheiro no desenvolvimento e na construção da personagem principal. Ela só queria um “obrigado” ou uma “desculpa” por essa bola fora do companheiro.

A partir daí, acompanhamos o íntimo do casal e a complexidade de manter um relacionamento. Nem tudo são flores. Mas, o que Sam Levinson quer mostrar nas figuras de Malcolm e Marie é o quanto a gente esquece das coisas mais simples. Um “obrigado”, uma “desculpa”, acabam se tornando tabus depois que o relacionamento está fixado. Para Malcolm, Marie jamais iria se importar já que os dois se amam. Com diálogos bastante intensos, Malcolm & Marie mostra que há muita coisa para ser resolvida pelo casal. O roteiro de Levinson é inteligente por não vitimizar ou vilanizar um personagem. A princípio, parecia que Malcolm é o grande culpado por aquele conflito, mas o texto trabalha para que a gente compreenda os dois lados da história.

O filme mostra que não havia diálogo entre o casal. Estavam os dois engolindo tudo e o lançamento do filme foi o estopim para a crise entre eles. Algumas pessoas podem não curtir a estrutura do filme, já que é movida por longos diálogos, monólogos e se passa em um mesmo ambiente. Mas quem não se importa com isso, vai se deleitar com cada nuance e as interpretações maravilhosas de Zendaya e John David Washington. São performances dignas dos mais importantes prêmios da indústria. A cena entre os dois na banheira é bastante pesada e emotiva, mostrando o quanto estavam dentro dos personagens.

A atuação de John David Washington surpreende pela forma como ele conduz os monólogos. Sua interpretação de Malcolm é mais explosiva, sempre direcionando ataques e ofensas para Marie, que na interpretação de Zendaya é mais contida, absorvendo as discussões para depois tomar a iniciativa.

Sam Levinson também reserva um espaço para fazer uma crítica sobre a crítica. Quando Malcolm se depara com a primeira crítica sobre seu filme, publicada pelo LA Times, vemos muito do diretor no personagem. Mesmo não sendo um admirador das críticas cinematográficas, Sam Levinson na figura de Malcolm compreende que análises de obras são importantes.

A trilha sonora do filme é providencial. Por muitas vezes, a trilha substitui diálogos. E as canções escolhidas funcionam como palavras que deveriam ser ditas por Malcolm e Marie, mas são deixadas de lado por orgulho.

Malcolm & Marie é filme denso e para se refletir bastante. É um filme sobre amor, perdão, culpa e saúde mental. O longa tem um desfecho poético e bastante profundo sobre a complexidade de um relacionamento. Ao final, é sobre a ausência das coisas simples, como dizer um “obrigado” e “desculpa”. Palavras que deveriam fazer parte do cotidiano de qualquer casal, mas que são esquecidas por ego, orgulho e medo.

4

Ótimo

Malcolm & Marie é filme denso e para se refletir bastante. É um filme sobre amor, perdão, culpa e saúde mental. O longa tem um desfecho poético e bastante profundo sobre a complexidade de um relacionamento. Ao final, é sobre a ausência das coisas simples, como dizer um “obrigado” e “desculpa”. Palavras que deveriam fazer parte do cotidiano de qualquer casal, mas que são esquecidas por ego, orgulho e medo.