Liga da Justiça de Zack Snyder [Crítica]

Liga da Justiça de Zack Snyder [Crítica]
Divulgação/Warner Bros.
Liga da Justiça de Zack Snyder entrou para a história para o bem e para o mal. Jamais a versão de um filme, que muitos acreditavam ser uma lenda urbana, foi tão falado nos últimos anos. E é justificável, já que a versão de 2017 retocada por Joss Whedon em nada se compara com o corte de Snyder. Vendo essa versão de 4h fica evidente o porque do diretor querer lançar sua visão da história. Sim, a Warner retirou muita coisa que o cineasta planejou. O corte do cinema de Liga da Justiça jogou no lixo a exploração mais profunda de Snyder sobre o mito do super-herói, algo que ele fez O Homem de Aço e Batman vs Superman. Por fim, foi um filme picotado, confuso e com os personagens sem sintonia.

Liga da Justiça de 2017 foi como um trabalho mal feito para a escola que o aluno acredita que esteja bom e entrega mesmo assim. Já Liga da Justiça de Zack Snyder é um trabalho feito com mais calma, com atenção nos detalhes e que vai garantir uma nota boa do professor. Foram três anos e meio de movimento para o Snyder Cut acontecer, convencendo a Warner Bros. a gastar mais de $ 70-90 milhões para a conclusão do projeto.

O filme ter 4h de duração pode assustar de início. Mas são 4h muito bem distribuídas. Alguns podem se cansar, outros não. Existem filmes de 2h muito arrastados. Já o Snyder Cut dá vontade de querer assistir mais.

A Liga da Justiça de Zack Snyder é um filme com coração. O longa atinge o equilíbrio perfeito entre a estética mais sombria de Snyder e um tom mais clássico lembrando a Era de Ouro dos heróis da DC. O filme é dividido em seis capítulos e um epílogo. A ideia inicial seria de uma minissérie no HBO Max, mas que foi descartada pela Warner Bros.

Ser lançado como minissérie seria o ideal, mas assistir o filme em sequência torna a experiência ainda mais agradável. Parecia que não, mas o filme mostra como detalhes minuciosos podem alterar drasticamente uma produção. Muitas cenas são as mesmas, mas o contexto é diferente. O grande exemplo é o Lobo da Estepe, que ganhou uma motivação maior.

Enquanto no filme de 2017, ele recupera as três Caixas Maternas de maneira bem fácil, aqui ele pena para consegui-las. Além disso, sua motivação é recuperar o respeito de Darkseid, que o forçou a servidão. A sequência do vilão para roubar a Caixa Materna em Themyscira é grandiosa, dando vontade de um filme pra ontem sobre as Amazonas. Além disso, o visual do Lobo da Estepe está caprichado, ganhando detalhes em seu traje que reagem quando está lutando.

A partir daí, Batman (Bruce Wayne), Mulher Maravilha (Gal Gadot), Flash (Ezra Miller), Ciborgue (Ray Fisher) e Aquaman (Jason Momoa) precisam se unir para evitar a extinção da Terra se as três caixas forem sincronizadas. Com 4h de duração, Snyder tem um tempo maior para trabalhar seus heróis e corrigir alguns erros grotescos no original.

No filme de 2017, Ciborgue e Flash são figuras decorativas e o potencial dos personagens pouco foi explorado. São os únicos que não ganharam um filme solo. Então o diretor dá mais espaço para os dois heróis. Ciborgue tem sua história melhor contada, mostrando como ele deve se adaptar a sua nova vida como uma máquina, enquanto reluta para perdoar o pai ausente, que resultou no acidente que o deixou quase morto e tirou a vida da mãe. Barry Allen é um jovem que tenta levar uma vida comum em busca de emprego para ajudar a libertar o pai da prisão. Há uma incrível sequência com a presença de Iris West (Kiersey Clemons), deixando caminho aberto para o seu futuro filme solo.

Os outros não sofreram tantas mudanças. Aquaman é um rei que evita seu destino, Mulher Maravilha mostra ser uma guerreira nata e a mais experiente da equipe, Batman busca corrigir os erros cometidos que levaram à morte de Superman. As piadas sem graça foram retiradas e o Bruce Wayne atua como o elo de união do grupo. Falando no Homem de Aço, ainda continua um personagem fora de contexto. Seu ressurgimento é melhor trabalhado e o uniforme preto é a cereja do bolo para vê-lo em ação. Mas, ainda falta no Superman o símbolo da esperança. No filme, a Liga precisa dele por ser o mais forte e capaz de derrotar com facilidade o Lobo da Estepe. Kal-El é mais do que isso.

Mas a Liga da Justiça ganha mais peso. Vê-los trabalhando em equipe e combinando suas habilidades é maravilhoso em tela. Sinal que os personagens foram mais desenvolvidos e tratados com mais cuidado. Sendo assim, os momentos engraçados soam com naturalidade, algo que faltou no original.

Sobre Darkseid, o vilão tem um peso enorme na história. Embora apareça pouco, sua ameaça está sempre presente. Há uma sequência incrível de uma batalha antiga contra os humanos, deuses, atlantes e lanternas, que lembra muito 300 e O Senhor dos Aneis. Bastou algumas cenas para Snyder deixar claro que se trata de um vilão poderoso e temido por seus asseclas.

O visual do filme é aquilo já conhecido em filmes do Snyder. Muita tela verde, cores em contraste e as câmeras em slow motion para entregar um ar de grandiosidade em todas as sequências de ação. O que ele acerta pra valer são nos combates, principalmente nas lutas da Liga contra o Lobo da Estepe. Cada herói tem seu espaço para mostrar suas habilidades.

A trilha sonora do filme merece destaque. Sendo tratado desde o início como um épico, o filme é embalado com trilha de muitas batidas e coros, todos bem inseridos. E se conectam facilmente com as cenas de luta.

Zack Snyder faz questão de apresentar um filme para os fãs da DC, principalmente os mais apaixonados pelo fan service. A presença de Ryan Choi, o segundo Átomo do universo DC, e os olhos vermelhos de Martha, que entrega ser o Caçador de Marte, farão os fãs se deleitarem com as referências.

Por falar em fan service, a tão comentada sequência do pesadelo do Batman não foi tão grandiosa assim. Serviu apenas para fechar o ciclo do Homem-Morcego com o seu algoz, o Coringa, novamente interpretado por Jared Leto. Nem de longe parece o vilão de Esquadrão Suicida. Leto entrega uma versão mais sombria e cínica do palhaço do crime. Há uma tensa cena psicológica entre os dois, algo bastante presente nos quadrinhos.

Liga da Justiça de Zack Snyder não é um retrocesso ou desrespeito para o DCEU como acreditavam. É um filme épico e memorável que honra os heróis da DC. Gostando do Zack Snyder ou não, é sua obra-prima. Entregou um novo padrão para fazer filmes do gênero. E vai figurar na lista dos maiores filmes de super-heróis da história. Um filme que ressurgiu das cinzas graças ao apoio dos fãs e a devoção incansável de seu criador.

O final é emocionante com uma dedicatória para Autumn, a filha de Zack Snyder que cometeu suicídio quando ele trabalhava no filme da Liga em 2017. Por fim, foi um presente para ela. Foi um presente para os fãs.

4

ÓTIMO

A Liga da Justiça de Zack Snyder é um filme com coração. O longa atinge o equilíbrio perfeito entre a estética mais sombria de Snyder e um tom mais clássico lembrando a Era de Ouro dos heróis da DC.