Jardim dos Desejos, o novo filme de Paul Schrader, marca seu retorno aos cinemas brasileiros desde Cães Selvagens de 2016. Conhecido por suas contribuições monumentais à Hollywood com roteiros icônicos como Taxi Driver e Touro Indomável, Schrader continua a explorar os recantos mais sombrios da psique humana, embrenhando-se em temas de culpa, redenção e auto-reclusão. Seu novo trabalho estreou no 79.º Festival Internacional de Cinema de Veneza, sendo recebido com uma mistura de reverência e fascinação crítica, elementos constantes em sua carreira ilustre.
A narrativa de Jardim dos Desejos adentra territórios familiares para os conhecedores da filmografia de Schrader, seguindo a jornada de um homem tentando escapar das garras de um passado tenebroso. Este longa é considerado o fim da trilogia do “homem em um quarto,” iniciada com Fé Corrompida (First Reformed), que rendeu a Schrader uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original e a Ethan Hawke o Independent Spirit Award de Melhor Ator. Continuando com O Contador de Cartas, Schrader oferece em Jardim dos Desejos uma última meditação sobre personagens solitários, confinados em espaços limitados e assolados por um passado que insistem em esquecer enquanto buscam uma fagulha de redenção em seus trabalhos diários.
Ao olhar sob essa perspectiva, Jardim dos Desejos revela-se um filme delicado na superfície, mas com uma profundidade sombria oculta nas camadas internas de seu protagonista, Narvel Roth, interpretado pelo sempre competente Joel Edgerton. Schrader, com sua habilidade inata de explorar a alma humana, constrói um estudo de personagem que, à primeira vista, parece calmo e sereno, mas que carrega um turbilhão de tormentos internos. A escolha de Edgerton para o papel não poderia ser mais acertada, dado seu talento para transmitir uma intensidade contida que ressoa profundamente com o espectador.
Na trama, Narvel Roth é o meticuloso horticultor dos Jardins Gracewood, dedicando-se com fervor ao cuidado dos terrenos desta bela e histórica propriedade e à satisfação de sua empregadora, a rica viúva Sra. Haverhill, interpretada com maestria por Sigourney Weaver. A rotina espartana de Narvel é subitamente perturbada quando a Sra. Haverhill exige que ele aceite Maya, sua problemática e conturbada sobrinha-neta, como nova aprendiz. A chegada de Maya, vivida pela promissora Quintessa Swindell, traz à tona segredos sombrios de um passado violento, ameaçando a frágil estabilidade de todos os envolvidos.
Joel Edgerton entrega uma performance sublime como Narvel, um homem recluso e solitário que usa a jardinagem como um refúgio para esquecer um passado manchado de violência. Sua interação com Maya, que também se sente deslocada e marginalizada, é o cerne emocional do filme. Swindell, com sua interpretação crua e vulnerável, encontra uma conexão autêntica com Edgerton, resultando em uma dinâmica que é ao mesmo tempo comovente e transformadora. A relação entre os dois personagens é uma troca genuína de compreensão e apoio, destacando-se como um dos pontos altos do filme.
Jardim dos Desejos levanta questões profundas sobre o mal que habita em cada ser humano e a possibilidade de redenção. Schrader nos força a confrontar a ideia de que nem todos são inerentemente maus; muitos estão simplesmente perdidos, buscando desesperadamente uma segunda chance. Este filme é uma meditação poética sobre a natureza humana e a busca por redenção, uma jornada tocante que desafia o espectador a olhar além das aparências e a reconhecer a complexidade de cada indivíduo.
Paul Schrader, merecedor de maior reconhecimento como cineasta, entrega em Jardim dos Desejos mais uma obra que solidifica sua posição como um dos grandes contadores de histórias do cinema contemporâneo. Este filme não é apenas uma narrativa de redenção, mas uma tocante jornada através dos jardins internos de seus personagens, onde cada planta cultivada e cada segredo revelado contribui para uma paisagem emocional rica e profundamente humana.
Com distribuição da Pandora Filmes, Jardim dos Desejos estreia no dia 30 de maio nos cinemas brasileiros.
ÓTIMO
Este filme não é apenas uma narrativa de redenção, mas uma tocante jornada através dos jardins internos de seus personagens, onde cada planta cultivada e cada segredo revelado contribui para uma paisagem emocional rica e profundamente humana.