Falar de Juliette Binoche é, de fato, chover no molhado. Ela é uma daquelas estrelas do cinema francês cuja luz brilha há décadas, trazendo nuances e profundidade a cada papel que encarna. Porém, se em seu país natal ela é reverenciada como um ícone, em Hollywood sua presença foi muitas vezes subestimada, o que é uma verdadeira injustiça para uma atriz de sua envergadura. Em Inverno em Paris, lançado originalmente na França em 2022 e chegando aos cinemas brasileiros somente em 2024, Binoche nos lembra do seu imenso talento. O filme, que já havia percorrido importantes festivais ao redor do mundo, destaca-se especialmente por trazer à tona o talento de Paul Kircher, que brilha de forma arrebatadora. O jovem ator, que ganhou o Prêmio Marcello Mastroianni de melhor revelação no Festival de Veneza em 2024, é uma verdadeira força no longa, mostrando um futuro promissor para o cinema francês. Além disso, seu desempenho também lhe rendeu o prestigiado César de Melhor Ator Principal, solidificando sua ascensão.
Sob a direção sensível e madura de Christophe Honoré, conhecido por filmes como Marcello Mio, Inverno em Paris se desenrola de maneira fluida e poética. A trama segue Lucas (Paul Kircher), um jovem no auge de sua adolescência, atravessando seu último ano de internato quando recebe a devastadora notícia da morte de seu pai, trazida por sua mãe, interpretada por Juliette Binoche. O enredo, que pode parecer simples à primeira vista, revela-se uma montanha-russa emocional à medida que Lucas tenta entender o que isso significa para sua vida e como lidar com o vazio que agora sente. A chegada de seu meio-irmão Quentin (Vincent Lacoste), diretamente de Paris para o funeral, adiciona uma nova camada à narrativa. Quentin, um personagem intrigante e multifacetado, convida Lucas a passar uma semana com ele em sua casa na capital francesa, criando uma oportunidade para que o protagonista mergulhe em uma jornada de autodescoberta.
O verdadeiro coração de Inverno em Paris é o luto de Lucas, que não se manifesta de maneira convencional. Não se trata apenas de tristeza profunda, mas de uma crise existencial onde o garoto, já emocionalmente fragilizado, busca por afeto, compreensão e sentido em um mundo que parece estar desmoronando ao seu redor. Honoré, com sua câmera delicada e ao mesmo tempo implacável, captura esse turbilhão com uma sensibilidade rara, sem recorrer a melodramas fáceis. O filme não se limita a explorar a dor da perda, mas também investiga as conexões humanas que emergem nesses momentos sombrios, onde o amor e o apoio se tornam as únicas luzes possíveis. É uma história de amor no sentido mais profundo da palavra — não no sentido romântico, mas no desejo de compreender e de ser compreendido, de encontrar beleza em meio à destruição emocional.
As performances de Juliette Binoche e Paul Kircher como mãe e filho são o alicerce emocional da obra. Ambos trazem à tona uma química impressionante, onde o silêncio, os olhares e os pequenos gestos dizem tanto quanto os diálogos. Binoche, como uma mãe que tenta manter sua compostura em meio à dor, é ao mesmo tempo forte e vulnerável. Já Kircher entrega uma performance visceral, navegando pelas águas turbulentas do luto adolescente com uma maturidade que impressiona. A dinâmica entre eles é intensa, cheia de altos e baixos, com momentos de tensão e de ternura, criando um retrato íntimo de uma família despedaçada tentando se reencontrar. O ato final do filme é particularmente pesado e doloroso, abordando temas que podem servir como gatilhos para muitos espectadores, mas o desfecho — ainda que sombrio — é pontuado por um instante de rara beleza e esperança, deixando um gosto agridoce.
Inverno em Paris é uma obra delicada e, ao mesmo tempo, visceral. Honoré nos presenteia com um filme que é, acima de tudo, humano, explorando as complexidades da juventude, do luto e das relações familiares de uma forma honesta e sem rodeios. É um lembrete poderoso de que, mesmo nos momentos mais escuros, ainda é possível encontrar luz. Essa luz, muitas vezes, vem daqueles que amamos, e no caso de Lucas, é através das conexões familiares que ele começa a encontrar um novo sentido para sua vida.
Com distribuição da Pandora Filmes, Inverno em Paris está em cartaz nos cinemas brasileiros.
ÓTIMO
Inverno em Paris é uma obra delicada e, ao mesmo tempo, visceral. Honoré nos presenteia com um filme que é, acima de tudo, humano, explorando as complexidades da juventude, do luto e das relações familiares de uma forma honesta e sem rodeios. É um lembrete poderoso de que, mesmo nos momentos mais escuros, ainda é possível encontrar luz. Essa luz, muitas vezes, vem daqueles que amamos, e no caso de Lucas, é através das conexões familiares que ele começa a encontrar um novo sentido para sua vida.