Crítica | Doom Eternal

Reprodução/Bethesda

Doom é um jogo que está marcado na história dos games por ser um dos precursores do gênero Jogo de Tiro em Primeira Pessoa (First Person Shooter – FPS), junto com Wolfenstein e Quake. Em 2014 o mundo recebeu o anúncio do reboot de Doom com receio, pois após o jogo original os jogadores conheceram Half Life, que incluiu uma camada narrativa interessante em FPS, e posteriormente Call of Duty que mudou os padrões dos jogos de tiro para o que estamos acostumados atualmente (peso das armas, movimentação, cadência do tiro, narrativa, entre outros).
No entanto, o lançamento de Doom em 2016 foi um sucesso e conseguiu agradar uma imensa quantidade de jogadores, pois além de atualizar os gráficos, o jogo trouxe uma jogabilidade que remete ao original, mas que está muito mais frenética, repleta de execuções brutais de inimigos demoníacos e uma trilha sonora de metal alucinante, além de introduzir, pasmem, um pano de fundo narrativo interessante para explicar o surgimento dos demônios no planeta Marte.

No DOOM de 2016, o protagonista Doom Guy (reportado como o Cara do Doom em Doom Eternal) é acordado em uma espécie de sarcófago retirado do inferno. Ele descobre que a Corporação Terrestre UAC, após uma crise de fontes energéticas na Terra, decidiu explorar a energia Argent, que é uma energia retirada literalmente do inferno e para isso construiu uma base industrial e científica em marte para a extração desta energia. Fomos apresentados então aos personagens Dr. Samuel Haiden e a Dra. Olivia Pierce, que trabalhavam em conjunto desde então neste propósito. No entanto a Dra. Olivia decide abrir um portal em marte para a invasão demoníaca. E é aí que o Dr. Samuel Haiden acorda o Doom Guy e começa a saga para fechar o portal do inferno em marte.
Após um jogo intenso, com muitas matanças de demônios e ida literal ao inferno, com a ajuda de uma inteligência artificial chamada Vega, similar à Cortana de Halo, (spoiler) o Doom Guy consegue o item Cruscible e derrota os demônios. No entanto, ele é traído e preso em marte e o item lhe é tomado. Assim termina o jogo Doom.

Em Doom Eternal o Doom Guy consegue sair de sua prisão em Marte (e parece que a leva junto), porque o jogo se inicia com a sua chegada à Terra já dominada pela invasão demoníaca que tinha se iniciado em Marte. Ele chega junto com uma espécie de Fortaleza da Solidão, uma nave-castelo, cheia de salas e corredores, além da inteligência artificial Vega, com a missão de matar 3 sacerdotes demoníacos para frear a invasão demoníaca na Terra. Essa é então a desculpa para começar mais uma frenética, insana e desenfreada matança de demônios.

Inferno frenético e de perder o fôlego

A jogabilidade de Doom Eternal melhora muitos aspectos que já tinham sido apresentados no jogo anterior. Ela consiste basicamente em atirar utilizando vários armamentos diferentes, sempre em movimento, pois no momento que você para, parece que todos os tiros dos inimigos o atingem e o dano é muito grande. Utilizar armas parado para mirar, como um sniper se torna uma tarefa muito difícil neste jogo. O segredo é partir para cima dos demônios e destruí-los de forma brutal (com animações muito divertidas), tudo isso animado por uma trilha sonora intensa repleta de rock metal.
Na maior parte do tempo o jogo se passa em largas sessões de arenas, onde você só avança se dizimar todos os monstros que lá estão e que vão surgir posteriormente. As arenas abusam da verticalidade, uma vez que o Doom Guy também possui vários movimentos que fazem uso disso como o pulo duplo, o dash e o apoio em beiradas.

Reprodução/Bethesda

Apesar de existirem alguns itens no cenário que recuperam vida, armadura e munição, você tem que fazer um sábio uso das execuções gloriosas, da motosserra e, um pouco mais para frente, do lança chamas nas suas corridas nas arenas de inimigos. Isso porque quando você faz uma execução gloriosa num inimigo subjugado você libera itens que vão repor a sua barra de hp (vida). Utilizar a moto serra em inimigos libera grande parte da munição perdida e, às vezes itens que preenchem a barra de vida. E por último, tacar fogo nos inimigos antes de os matar gera itens que preenchem a barra de armadura. Como os tiros dos inimigos tiram muita vida e armadura, você vai ficar o tempo todo correndo e olhando as barras de vida e armadura, pois quando os níveis estiverem baixos, você vai procurar demônios fracos para execução gloriosa, serrar com a motosserra ou tacar fogo para encher as barras. Isso tudo enquanto você tá fugindo dos outros demônios para não morrer. Isso torna quase todas as arenas uma disputa frenética de matar demônios grandes, fugir deles, subir e descer o cenário, procurar monstros para execução gloriosa ou motosserra, num ciclo intenso até os monstros do cenário acabarem ou você morrer. Em várias arenas, ao final, me vi muito tenso, suado e com o coração acelerado, de tanta adrenalina. E aliviado quando conseguia, ao final, superar a imensa horda.

Algumas soluções adotadas para justificar a presença das arenas em Doom Eternal são um pouco esquisitas. No primeiro jogo, o jogador percorria as instalações marcianas e cada vez que ele entrava em uma sala, as portas eram seladas com uma desculpa de que a inteligência artificial Vega tinha que conter as invasões demoníacas dentro da instalação. Com a derrota de todos os demônios da sala, Vega liberava as trancas e propiciava a travessia do protagonista na história. Em Doom Eternal, você atravessa vários cenários nas metrópoles destruídas da Terra, em locais abertos ao ar livre com aspectos de corredores (lineares), a não ser pelos caminhos alternativos (mas curtos) que levam a segredos do cenário. Quando as hordas de inimigos aparecem, um espécie de parede invisível surge do nada e impede o protagonista de seguir em frente até que a horda seja desfeita. Não foi incluído algum fator na história ou mitologia que justificasse o surgimento destas barreiras, o que faz supor que não foi pensada uma solução para isso, agora que a invasão chegou na Terra. Sabe-se que dizimar hordas de demônios em grandes arenas é o cerne da jogabilidade de Doom e isso foi muito bem integrado à história e ao fluxo de jogabilidade no jogo anterior, mas não pareceu ser bem encaixado agora que o cenário se passa em lugares abertos da Terra.
As armas do jogo original reaparecem em Doom Eternal, como a escopeta, o lança mísseis, o canhão pesado e a arma de plasma, com suas respectivas melhorias. Algumas tem o seu funcionamento mudado, como a Superescopeta que possui agora o gancho de carne, que possibilita fincar uma corrente num inimigo e ser arrastado até ele. Algumas melhorias nas armas também mudaram, mas nem sempre para melhor. Algumas armas fazem a sua estreia, como a Balista, adicionando mais elementos à jogabilidade. Dica: melhorar o tempo de recarga e a quantidade de munição são aspectos cruciais das melhorias para se lidar com os demônios ao largo da jornada.

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Outro aspecto importante é a duração das arenas. Geralmente elas tem uma primeira orda de demônios, onde um ou dois demônios mais fortes dominam. Quando estes são derrotados vem uma segunda onda, com outros demônios fortes (na maior parte das vezes diferentes) e após cerca de 3 ondas a arena é concluída. No entanto, no jogo original, a distribuição dos demônios nas arenas parecia mais uniforme. Em Doom Eternal, algumas arenas possuem ondas com quantidades exageradas de demônios, que após vencidas, trazem mais demônios, mas de forma mais descoordenada, o que leva a arena a demorar tempo demais para ser concluída. Várias arenas, mesmo nas fases iniciais demoram tempo demais para serem concluídas, mesmo nas dificuldades mais fáceis, o que gera as vezes mais sensação de frustação do que a sensação de ser o matador de demônios, tão agradavelmente explorada no jogo anterior.
Os cenários são repletos de segredos, que incluem inclusive upgrades para as armas e armaduras de pretor. Também é interessante encontrar baterias que liberam melhorias dentro da fortaleza do Doom Guy, além de bonequinhos dos demônios que decoram a estante dentro da nave, além da trilha sonora de outros jogos Doom. Um easter egg legal é encontrar as referências aos jogos anteriores e inclusive outros jogos como Quake dentro do seu espaço na fortaleza.

Uma mudança bem vinda foi a adição de uma parte no modo campanha onde você assume o controle de um demônio, observando e atirando através do olhos do demônio controlado pelo Doom Guy. Isso adicionou novidade à jogabilidade e foi divertido agir e voar como um demônio agindo contra os seus pares.

O Inferno é cheio de… plataforma?

Um dos aspectos que mais chamam a atenção em Doom Eternal são os elementos de plataforma inclusos durante o modo campanha. Primeiramente, além do pulo duplo, logo mais a frente na campanha você ganha uma espécie de dash duplo, que você usa da mesma forma que em alguns jogos do estilo metroidvania. A combinação do pulo duplo com o dash permite você alcançar distâncias muito longas, que seriam impossíveis no jogo original.

Imagem. Desafio de plataforma em Doom Eternal. Nesta, inicialmente é necessário se pendurar naquele sarcófago flutuante (com estrela) no canto inferior esquerdo da imagem.
Para fazer uso desta mecânica, o jogo passou a ser repleto de estágios entre as arenas, onde é necessário fazer uso de mecânicas de plataforma para superar obstáculos, subir no cenário e resolver quebra-cabeças.
O problema é que muitos quebra-cabeças envolvem o uso de plataforma e timing correto para ativar a combinação pulo duplo e dash. A adição de contadores de tempo, obstáculos mortais, barras que sobem e descem e rampas que caem se vc demorar em cima delas aumentam ainda mais o desafio do modo campanha e podem ser frustrantes, ocasionando várias mortes para quem buscava apenas atirar em demônios e ver o desenrolar da história. Muitas vezes desejei que muitos desafios de plataforma fossem retirados ou deixados apenas para aqueles que são aficionados pela caça de itens e segredos do cenário. Algumas vezes parece que a inspiração para melhorar o design de fases em Doom Eternal veio de games como Mario Odissey (que eu adoro), mas que não casa muito com a mitologia de Doom.

O inferno é horrendo… mas os gráficos são estonteantes

Doom Eternal chega trazendo gráficos estonteantes. A direção de arte do jogo recheou os cenários horrendos com pentagramas e velas e estátuas de titãs, numa mistura de tecnologia futurista com os rituais arcanos demoníacos. A história do jogo, que remete a uma civilização antiga e extraterrestre que lutou anteriormente contra os demônios permitiu a criação de cenários onde esta mistura do arcano com o tecnológico fosse aceitável dentro da mitologia do jogo, criando templos tecnológicos futuristas repletos de demônios.
A animação dos demônios está ainda melhor trabalhada que no jogo anterior, assim como a inteligência artificial. Muitas vezes os demônios se reúnem para te fazer emboscadas em partes dos cenários e saem fugindo quando veem que você carrega uma arma mais forte em dano.

Reprodução/Bethesda

O jogo roda em 60 quadros no console e não percebi momentos com queda de frame rate. No entanto, no Xbox One X ele passa por alguns problemas de crash, pois algumas vezes o jogo provocou o desligamento do console. Após religado apareceu uma mensagem de aquecimento do console. O que era estranho é que o jogo travava logo no início (quando o console ainda estava frio). Em momentos posteriores da campanha isso aconteceu também em momentos diferentes, mas quase sempre durante cutscenes ou no menu de início. Em consulta a fóruns, outros jogadores de Xbox One X também relataram ocorrências semelhantes.

O inferno é assimétrico

O multiplayer de Doom Eternal tem um modo assimétrico onde dois jogadores podem assumir o papel de demônios, invocando os mesmos dentro da sala para matar um jogador que assumirá o papel de Doom Guy. Esta forma de multiplayer assimétrico é bem vinda e bem divertida, mas ainda veremos se ela vai ser aceita pelos jogadores, pois geralmente é difícil equilibrar a jogabilidade nestes modos multiplayer.

Caia dentro do Inferno

Doom Eternal é um jogo fantástico, que busca superar o seu antecessor de 2016, com seu game design apenas exagerando em algumas coisas, como alterações nas armas, duração das arenas e desafios de plataformas. Se você quer um game com jogabilidade frenética, execuções brutais, muitas explosões, verticalidade, cenários repletos de demônios e com uma trilha sonora intensa, pegue Doom Eternal e encha o seu coração de adrenalina.

Avaliação realizada em um Xbox One X com cópia da versão Deluxe fornecida pela Bethesda.

Por Sérgio Batista de Figueiredo

4

Ótimo

Doom Eternal é um jogo fantástico, que busca superar o seu antecessor de 2016, com seu game design apenas exagerando em algumas coisas, como alterações nas armas, duração das arenas e desafios de plataformas. Se você quer um game com jogabilidade frenética, execuções brutais, muitas explosões, verticalidade, cenários repletos de demônios e com uma trilha sonora intensa, pegue Doom Eternal e encha o seu coração de adrenalina.

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