Chorão: Marginal Alado | Crítica |

Chorão: Marginal Alado | Crítica |
Divulgação/O2 Play

Chorão era um artista do segmento ame-o ou deixe-o. Com a banda Charlie Brown Jr., ele foi a voz de muitos adolescentes em conflito com sentimentos, sonhos e anseios. Com suas letras, ele foi capaz de traduzir esse turbilhão de emoções e está na história do rock nacional. Chorão: Marginal Alado, documentário de Felipe Novaes teve a difícil tarefa de fazer um recorte na vida do cantor, empresário, roteirista e produtor. Foram mais de 700 horas de material compilados em um longa-metragem de 1h e 16 minutos.

O longa que ganhou destaque na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2019, e, no mesmo ano, no Festival do Rio, finalmente chega às plataformas digitais. É um recorte pontual sobre os momentos de altos e baixos do artista, morto em 2013 após uma overdose.

Batizado de Alexandre Magno Abrão, o documentário faz uma bela montagem logo no início do que representa o Chorão: skate e o Charlie Brown Jr., banda de rock fundada em Santos. Ele era um cara apaixonado pela arte e acreditava que aquilo seria o seu ganha pão, mesmo com todos desacreditando que um jovem sem estudo seria capaz de se tornar uma das figuras mais respeitadas da música nacional.

Chorão era um artista que não se contentava com pouco, queria sempre mais. Compondo mais, fazendo mais shows, se tornando empresário, produtor e roteirista de cinema. O documentário indica que ele sempre queria provar algo não apenas para os outros, mas para si mesmo. Por exemplo, ele não lidava bem com as críticas e o o filme mostra sem cortes todo o depoimento de João Gordo, um dos desafetos do músico. Mas entre palavrões e bofetões, os dois acabaram se entendendo. O mesmo não aconteceu com Marcelo Camelo, da banda Los Hermanos. Como dito no longa, Chorão amava com a mesma intensidade que se odiava alguém. Não havia meio-termo.

O diretor Felipe Novaes conseguiu entender que Chorão era um cara complexo, difícil de compreender. E o diretor trabalha de forma eficiente as facetas do artista. Enquanto em uma cena mostra o cantor berrando e falando palavrões sobre uma sociedade conservadora, vemos o lado mais doce dele em uma conversa com uma fã, que lamenta não ter dinheiro para comprar os álbuns originais do Charlie Brown Jr. Quando esperamos uma atitude voraz de Chorão, ele acalma a jovem e diz para ela baixar as músicas e não gastar dinheiro com isso. Um comportamento que poucos artistas teriam, já que no início dos anos 2000 houve uma queda de vendas de CDs e DVDs devido a pirataria.

Apesar da figura carrancuda, violenta e rebelde para alguns, o filme mostra que Chorão se vestia dessa forma para esconder o lado mais sensível e família. O relacionamento com Graziela Gonçalves, que deu origem à canção “Proibida pra Mim”, marca a presença no filme e há uma mistura de alegria e melancolia na voz de Graziela. Ela foi a que mais sentiu na pele os dois lados de Chorão. Seu discurso é emocionante quando ela percebe que não conseguiria tirar o marido do abuso de álcool e drogas.

Chorão: Marginal Alado é um documentário que pontua toda a vida intensa de um artista que decidiu viver à sua própria maneira. Contudo, existe um preço. Chorão e muitos outros artistas apostaram suas vidas para pagar esse preço, mas sem antes deixar de marcar o seu nome na história. Ele era um marginal alado não por ser um delinquente, mas por ser capaz de agredir com suas letras a hipocrisia de uma sociedade que continua nociva oito anos após sua morte.

4

ÓTIMO

Chorão: Marginal Alado é um documentário que pontua toda a vida intensa de um artista que decidiu viver à sua própria maneira. Contudo, existe um preço. Chorão e muitos outros artistas apostaram suas vidas para pagar esse preço, mas sem antes deixar de marcar o seu nome na história.