A Grande Fuga | Crítica

Michael Caine e a falecida Glenda Jackson mostram porque são considerados ícones do cinema britânico ao interpretarem o casal de protagonistas em A Grande Fuga. O filme conta a história real do veterano da Marinha Real da Segunda Guerra Mundial, Bernard Jordan, de 89 anos. Em 2014, ele queria embarcar em uma balsa que atravessaria o canal para participar das comemorações do 70º aniversário do desembarque do Dia D na Normandia, mas não conseguiu ser incluído em uma excursão oficial organizada pela Real Legião Britânica. Então, resolveu “escapar” de sua casa de repouso à beira-mar onde morava com a esposa Rene. Ele sente que deve isso aos amigos que morreram diante de seus olhos.

Os enfermeiros do local ficaram desesperados ao descobrir que Bernard havia sumido. Sua esposa, que sabia de tudo, ficou bem quietinha – dando tempo para que ele conseguisse chegar ao destino sem impedimentos. A policia da cidade passou a emitir alertas sobre o homem desaparecido, incluindo algumas postagens nas redes sociais. Após algumas horas, Irene revela os planos de seu marido para os enfermeiros da casa de repouso. Então, é emitido um comunicado oficial explicando o que aconteceu e essa aventura é chamada de A Grande Fuga – isso chega de alguma forma até a imprensa, que acha a história incrível. Antes mesmo do dia acabar, Bernard Jordan viraliza e se torna um rosto conhecido da nação.

Enquanto isso, Bernard , sem saber do que se passa em casa, faz amizade com outro veterano chamado Arthur (John Standing) na balsa. Eles acabam passando todo o tempo juntos, revelando histórias sombrias sobre seus passados e ajudando um ao outro a superarem os traumas que ainda carregam, mesmo após tantos anos. Intercalados com a fuga de Bernard estão tanto flashbacks fofos que constroem a relação entre Rene e Bernie (interpretados por Will Fletcher e Laura Marcus), quanto outros que mostram o horror dos desembarques do Dia D.

Michael Caine traz um brilho ao papel. Seu personagem é mal-humorado, mas também muito carinhoso com quem ele se importa. O ator consegue nos emocionar em muitos momentos, principalmente os que envolvem as memórias de Bernard sobre a guerra. Quando seu personagem chega ao destino e observa o mar, sentimos a sua tristeza, e também um breve lampejo de terror em seus olhos – é como se ele nunca tivesse saído destas praias.

Apesar de ter voltado da aposentadoria para oferecer um grande trabalho, ele é ofuscado por Glenda Jackson como Rene, que é sarcástica e muito divertida. Sua personagem é uma querida entre os residentes da casa de repouso por conta do humor ácido e da mente afiada, que são contrastantes com seu corpo tão frágil. Essa personalidade marcante faz com que a cuidadora Adele, em uma bela atuação de Danielle Vitalis, se afeiçoe à Rene e as duas acabam criando uma cumplicidade nesses momentos em que Bernard está viajando.

A premissa desta aventura de aposentados poderia ter se tornado apenas uma história divertida sobre uma fuga. Mas, na verdade, o filme tem uma abordagem melancólica, que aborda sentimentos de culpa e feridas psicológicas sofridas na batalha que nunca cicatrizam totalmente. Não se trata exatamente de culpa ou reconciliação, mas de como os que não morreram em batalha voltam para casa com essa bagagem emocional que nunca vai embora. Também mostra a força de um relacionamento que foi ardente em tempos passados, mas ainda extremamente dedicado e cheio de cumplicidade e respeito. E mais do que tudo, como chega um ponto na vida de todos nós em que é preciso encarar a mortalidade, independente do que fizemos ou deixamos de fazer em nossas histórias.

A Grande Fuga chega aos cinemas em 27 de junho, com distribuição da Diamond Films.