Ler é Bom, Vai | O Extraordinário mundo de Auggie, por R.J. Palacio

Não falta muito para vermos Jacob Tremblay (de “O Quarto de Jack“) na pele de August Pullman – ou Auggie – nos cinemas. O menino é o protagonista e narrador de Extraordinário, filme baseado no livro homônimo de R.J. Palacio de 2013. Quatro anos depois, Stephen Chbosky,  autor de “As Vantagens de Ser Invisível  “(confira a matéria sobre o livro aqui), assumiu a direção e resolveu levar a história de Palacio as telas no dia 11 de maio, razão pela qual estou escrevendo sobre ela agora. Coincidentemente, ontem recebi da Editora Intrínseca o livro Somos Todos Extraordinários, uma espécie de história em quadrinho escrita e ilustrada pelo mesmo autor. Com apenas 32 páginas, é uma excelente adição a trama original, principalmente para o público infantil.

“A única razão de eu não ser comum é que ninguém além de mim me enxerga dessa forma.”

O que faz de Auggie um garoto extraordinário? O que o torna diferente de todos os outros? Primeiramente, suas características físicas. August nasceu com uma síndrome genética rara que deformou seu rosto com o tempo, mesmo após inúmeras tentativas cirúrgicas e idas ao hospital. Não é sua aparência, porém, que o torna especial, mas sim a maneira como ele enxerga o mundo e nos relata por meio de seu ponto de vista. Tudo começa quando um de seus maiores desejos e medo se tornam reais e seus pais decidem enviá-lo para escola. Todos sabemos o quão desafiador pode ser começar em uma escola nova, onde ninguém lhe conhece e os grupos já estão formados. Imagine então fazer isso com uma deformidade no rosto. Crianças não possuem o mesmo senso crítico que muitos adultos – por mais que muitos ainda não o tenham -, e logo piadas cruéis surgem na vida de Auggie.

Ser narrado pelo ponto de vista do menino é o que faz o livro tão especial, pois nos mostra realmente o que se passa na cabeça de uma criança vítima do bullying e do preconceito, ao invés da visão enraizada de um adulto. Não pense você que isso torna a trama infantil. Auggie é um menino extremamente maduro, consciente, inteligente e de mente aberta, encarando todas as situações da melhor maneira possível. Sua ingenuidade e pureza não o permite desenvolver raiva, mesmo quando percebe as pessoas encarando-o, chamando-o de aberração em voz alta ou simplesmente desviando o olhar. Como todo humano, ele chora e se revolta com as situações, mas busca sempre enxergar o lado irônico e positivo de tudo. A personalidade jovem e engraçada de Auggie vai fazer você se apaixonar por ele desde as primeiras páginas, além de se emocionar com as belas palavras do menino.

Eu gostaria que todos os dias fossem Halloween. Poderíamos ficar mascarados o tempo todo. Então andaríamos por aí e conheceríamos as pessoas antes de saber como elas são sem máscara.”

Palacio optou por uma forma simples de conduzir sua trama, através de expressões fáceis e típicas de uma criança de dez anos. Muitos lilvros são narrados pelo protagonista, mas percebemos ser apenas uma visão retratada do(a) autor(a). Em Extraordinário isso não acontece. Temos a impressão de estar lendo um diário de Auggie, onde ele deposita seus desabafos, suas birras e insatisfações com o mundo ao seu redor. A intensidade é tanta que você vai querer entrar no livro e dar um grande abraço no menino, dizer-lhe que tudo vai ficar bem e que o mundo não é tão cruel assim. Mas ele é.

Extraordinário é um daqueles livros que deveriam ser adotados em escolas, independente da série ou da faixa etária de seus leitores. Assim como Auggie, diversas pessoas passam por problemas semelhantes e não tem a mesma percepção positiva sobre tudo. O menino nos dá uma aula de como viver e como tratar o próximo, independente do que ele tenha feito conosco. Amigos de verdade não se importam com a maneira como nos vestimos ou parecemos fisicamente. Se algum dos seus faz isso, é melhor rever a amizade.

“Deveríamos ser lembrados pelas coisas que fazemos. Elas importam mais do que tudo. Mais do que aquilo que dizemos ou do que nossa aparência. As coisas que fazemos sobrevivem a nós. São como os monumentos que as pessoas erguem em honra dos heróis depois que eles morrem.”
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