Ler é Bom, Vai | Com paciência, Toda Luz Que Não Podemos Ver é um ótimo livro

Depois de duas semanas de pausa devido a CCXP2016 e outros compromissos, o “Ler é Bom, Vai!” está de volta.

Desta vez escolho um livro, que após a sua leitura, ao mesmo tempo me surpreendeu e me decepcionou. Felizmente, os pontos positivos superam os negativos e se tornou uma excelente leitura. Antes de mais nada, gostaria de dizer que não é ‘mais um livro voltado para a Segunda Guerra Mundial”. Sim, o assunto é abordado em toda a narrativa, mas durante seus 10 anos escrevendo o livro, o autor usou as palavras certas para descrever seus personagens, trama e desfecho. .

” Abram os olhos e vejam tudo o que conseguirem ver antes que se fechem para sempre. “

Toda Luz que Não Podemos Ver chama à atenção logo por seu título enigmático, convidativo e poético, instigando o leitor a descobrir mais do que ele oferece. Mesmo vindo de um autor até então desconhecido,  Anthony Doerr, a obra foi a grande vencedora da edição 2015 do Pulitzer, “premiação norte-americana outorgada a pessoas que realizem trabalhos de excelência na área do jornalismo, literatura e composição musical”. Concorrendo com mais de 2500 livros, a trama de Doerr foi a vencedora. Já vale a leitura, não ?

Os protagonistas da história são Marie Laure, uma garotinha cega de dezesseis anos que vive em Saint-Malo, na França, no final da Segunda Guerra Mundial;  e Werner, um jovem recruta alemão de dezoito anos, que vive com sua irmã mais nova, Jutta, em um orfanato em Essen, na Alemanha. A trama oscila entre a vida dos dois e somos levados a diversos momentos diferentes, mas que sugerem um possível encontro em suas trajetórias.

Enquanto Marie vive com seu pai, desbravando cada centímetro da maquete feita por ele, retratando as ruas de sua cidade; Werner obstina-se em concertar um rádio velho, para conseguir oferecer a irmã e outras crianças, um pouco de entretenimento em tempos difíceis.

“Transmissões de Paris. Eles diziam o oposto de tudo o que a Deustschlandsender diz. Diziam que somos demônios. Que estamos cometendo atrocidades. Sabe o que significa a palavra, atrocidades? “

O único ponto negativo, para mim, é a grande extensão das histórias. Em um certo momento da leitura, ficamos cansados com a ausência de acontecimentos relevantes. Doerr percorre longos caminhos para chegar onde deseja, o que em grande número, pode levar muitos a acharem o livro chato. Quando as palavras começam a engrenar e fazer sentido, tudo ganha vida. Tenham paciência, somos recompensados no final.

A pureza e inocência presente nas palavras de Marie Laure e no comportamento de Werner, encantam até mesmo a mais fria das pessoas. A medida que a guerra avança e o menino é obrigado a servir aos nazistas, ele é requisitado na França para desativar qualquer meio de comunicação do inimigo. Como você ja deve ter adivinhado, Werner acaba indo parar em Saint-Malo, quando capta o pedido de Marie.

Não pensem porém, que só de doçura é feito o livro, afinal estamos no meio de uma guerra, onde milhões foram mortos. Doerr conseguiu mesclar de maneira brilhante, a extrema crueldade do ser humano e a ingenuidade de uma criança, conflito presente durante todo o tempo do conflito. Esse paradoxo está presente, principalmente, nas vidas opostas e conturbadas dos protagonistas: enquanto Marie-Laure luta para conseguir sobreviver ao exército alemão, Werner faz parte dele.

“– Seu problema, Werner – diz Frederick –, é que você ainda acredita que sua vida lhe pertence. ” 

” “- Quando perdi a visão, (…) as pessoas disseram que eu era corajosa. Quando meu pai foi embora, as pessoas disseram que eu era corajosa. Mas não era coragem; eu não tinha escolha. Acordo todos os dias e vivo a minha vida. Você não faz a mesma coisa?” 

Toda Luz que Não Podemos Ver é o típico livro que poderia gerar um dos melhores filmes do ano, mas confesso que depois de “A Menina que Roubava Livros”, tenho medo do que pode vir. Super recomendo a leitura, pois está entre os livros mais bonitos que já li. Os capítulos são curtos, apesar das mais de 500 páginas (é, é grande assim mesmo), e mesmo que a passos lentos, o final provavelmente irá te fazer chorar. Não é mais um livro sobre a “Segunda Guerra” e todos os clichês já conhecidos, mas um livro sobre inocência, crueldade, amor e principalmente coragem.

  • Muito Bom
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