Peguei para ler Céu Sem Estrelas, da Iris Figueiredo, quando estava a caminho da San Diego Comic Con. Felizmente – ou não – estava sem celular, e recorri ao livro para me manter entretida nas longas horas de vôo. Durante os 48 minutos entre o Rio de Janeiro e São Paulo, metade do livro já tinha ido. Enquanto esperava o vôo para Chicago, terminei. Falando assim parece que estou me referindo a melhor leitura do mundo, o que não estou. Mas a rapidez e a fluidez com que Céu Sem Estrelas passa diante dos olhos é realmente impressionante. A história é recheada de clichês e tem um vocabulário bem fácil. Contudo, quem foi que disse que para um livro ser bom ele precisa ter palavras rebuscadas e uma trama complexa?
Além disso, não podemos deixar de mencionar o fato que foi escrito por uma autoria nacional. De uns tempos para cá, através de parcerias com editoras vim recebendo diversos livros escritos por autores e autoras brasileiros. Isso não deveria ser algo de destaque, afinal, não fazemos o mesmo com escritos estrangeiros. Entretanto, nós brasileiros temos a tendência a admirar muito mais aquilo que vem de fora, sem valorizar o suficiente aquilo que vem de dentro. E é por essas e outras que resolvi trazer Céu Sem Estrelas para o Ler é Bom, Vai! No Brasil, o livro foi publicado pela Editora Seguinte, membro do Grupo Companhia das Letras.
Sinopse
Cecília acabou de completar dezoito anos, mas sua vida está longe de entrar nos trilhos. Depois de perder seu primeiro emprego e de ter uma briga terrível com a mãe, a garota decide passar uns tempos na casa da melhor amiga, Iasmin. Lá, se aproxima de Bernardo, o irmão mais velho de Iasmin, e logo os dois começam um relacionamento. Apesar de estar encantado por Cecília, Bernardo esconde seus próprios traumas e ressentimentos, e terá de descobrir se finalmente está pronto para se comprometer. Cecília, por sua vez, precisará lidar com uma série de inseguranças em relação ao corpo — e com a instabilidade de sua própria mente.
O Livro
Um dos pontos que mais me agradou em Céu Sem Estrelas foi a veracidade de suas informações. Não sei muito sobre a história da autora, mas ao ler suas palavras, tive a impressão de que ela já passou por tudo aquilo que sua protagonista descreve, ou ao menos conhece alguém que passou. As informações presentes nas páginas não são mascaradas, tendo apenas um toque de romance que toda ficção precisa.
Cecília
Como descrito na sinopse, o livro conta a vida de Cecília, uma jovem de 18 anos que acabou de entrar na faculdade de Desenho Industrial. Sua vida seguia aos trancos e barrancos, até desmoronar. Tudo começa quando ela perde o emprego em uma livraria e precisa inventar uma desculpa para a mãe não descobrir. A família de Cecília depende do pouco dinheiro que ela ganhava no emprego e só de pensar em decepcionar sua mãe lhe causa pesadelos. Esta por sua vez, está longe ser um exemplo materno, visto que prioriza outras coisas a própria filha. Quando seu padrasto descobre o desemprego da menina, a mãe a expulsa de casa, enviando-a para a casa de sua avó.
A menina não aceita o corpo que tem por fugir do estereótipo exigido pela sociedade. Parece besteira não é mesmo? Experimente olhar para o espelho todos os dias e não gostar daquilo que vê. Essa é a vida de Cecília.
A menina resolve pedir ajuda a sua melhor amiga, Iasmin, uma vez que não se sente pronta para encarar a avó. Com uma situação financeira extremamente mais favorável, a amiga a acolhe em sua casa e lhe oferece um quarto só seu. Mesmo que seja por pouco tempo, aquilo lhe parece um sonho de princesa. E como em muitos contos de fadas, esse também tem um príncipe, de nome Bernardo. O problema? Ele é o irmão de Iasmin.
Bernardo
Para a nossa felicidade, Iris Figueiredo também nos dá o ponto de vista de Bernardo. Não que a versão de Cecília estivesse ruim, mas é bom para nos dá uma outra visão de tudo. Com isso, conseguimos julgar e desenvolver mais os personagens na imaginação. Ele é o oposto da protagonista com sua vida fácil e mulheres se jogando aos seus pés. Mas como não devemos julgar um livro pela capa, o menino esconde seus próprios medos e desafios. Quando Cecília se muda para sua casa, ele descobre um mundo novo que nunca imaginou vivenciar.
Vê-lo contar a história é essencial para torcermos – ou não – para o casal formado entre ele e Cecília. Ele sempre foi a paixonite dela, mas ela nunca havia passado por seus pensamentos até o momento em que o livro se encontra. E assim como ela, o fato de estar desenvolvendo sentimentos pela melhor amiga de sua irmã não estava em seus planos.
O Que Achamos de Céu Sem Estrelas?
O que faz do livro de Iris Figueiredo diferente dos demais, são os assuntos que ela introduz em seu romance. Sem os problemas enfrentados por Cecília, estaríamos diferente de mais um simples romance adolescente.
A trama lida com temas complexos e importantes, como o bullying, o abandono e até mesmo o amor. Cecília tem uma dificuldade enorme em reconhecer a mulher que é, pois uma vez que foi sempre julgada pela sociedade, ver algo bonito no espelho parece impossível. Quando somamos isso a todas as dificuldades enfrentadas pela garota, temos de aplaudi-la de pé por não desistir. É muito fácil julgar do lado de fora ou falar algo que julgamos não ofender, mas não vivemos na cabeça do outro. Não sabemos o que o outro enfrenta diariamente e não sabemos o quão agravante uma palavra pode ser. Há quem vá dizer que Cecília é fresca e reclama de pouco. Se você é um deles, recomento que releia a história de Iris Figueiredo e tente entendê-la do jeito certo.
O que mais me agradou na história foi o desfecho não previsível encontrado pela autora. Fiquei com medo que depois de tantos problemas e dificuldades, a protagonista tivesse um final “e todos viveram felizes para sempre”. Não que eu não o desejasse, pois Cecília realmente merecia. Entretanto, a menina tem uma vida difícil e muito precisa ser trabalhado ainda. Se você encontrou reconhecimento em alguma das dificuldades enfrentadas pela protagonista, saiba que você não está sozinho. Converse com alguém.
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Muito Bom
