Venom: A Última Rodada Venom: A Última Rodada

Venom: A Última Rodada | Crítica

O filme que encerra a trilogia iniciada em 2018 é uma bagunça, assim como seus antecessores.
Divulgação.

Um dos casos mais intrigantes dos últimos anos no cinema é como Venom e Venom: Tempo de Carnificina foram sucessos de bilheteria e aclamados por diversos grupos de fãs. Não me entenda mal, acredito que o cinema, acima de tudo, deve ser sentido, mas ainda me pergunto como uma trilogia desse universo foi possível. Porém, aqui estamos em 2024, com Venom: A Última Rodada, que, mesmo sem se levar a sério, não deixa de ser vergonhoso em muitos momentos.

Essa trilogia é mal construída do começo ao fim, embora tenha começado com boas intenções, tentando justificar a existência do personagem sem sua principal base: o Homem-Aranha. Utilizando um personagem relativamente novo da Marvel, mas que conquistou os fãs principalmente pelo visual único e chamativo, sendo completamente oposto ao amigão da vizinhança, Venom (2018) parecia inofensivo, pois poucos imaginavam que daquele filme surgiriam mais duas sequências.

O segundo título, Venom: Tempo de Carnificina, entendeu que esse universo não era para ser levado a sério, pois a “galhofa” ajudaria a justificar seus absurdos e contar uma história completamente perdida. Com essa sequência, tão mal escrita e atuada quanto o primeiro filme, ficou claro que a principal intenção desse universo cinematográfico da Sony era: dinheiro.

Em Venom: A Última Rodada, a história continua de onde o segundo filme parou, seguindo a saga do agora foragido Eddie Brock. Após uma visita de criaturas vindas do planeta natal do simbionte, a dupla terá que lutar por sua sobrevivência, sendo caçados por dois mundos diferentes. Sem saída, eles enfrentarão seu maior desafio, que pode representar a salvação ou a perdição do planeta Terra.

Filmes têm suas propostas, e cabe a eles trabalharem nelas. Nesta terceira história, a principal ideia é abandonar qualquer sofisticação narrativa ou técnica para ser apenas uma produção divertida, com cenas de ação empolgantes. No entanto, isso pouco importa quando a obra  esquece suas ideias principais, alternando entre se levar a sério e abraçar o nonsense, desrespeitando sua própria proposta. O filme abandona a falta de lógica para tentar ser mais sério e forçar o público a se importar minimamente com o que está acontecendo em tela.

Se a intenção era aprender com os erros dos filmes anteriores, Venom: A Última Rodada é um aluno que repetiu de ano pela terceira vez seguida. Como encerramento da trilogia, o filme apressa sua narrativa para construir uma nostalgia vazia, acreditando que o público teria algum apego especial pelas produções anteriores, forçando um saudosismo do início ao fim.

A confusão desse terceiro filme pode ser explicada por sua parte técnica, que demonstra dificuldades em contar uma história que não precisava ser justificada. A direção e o roteiro ficaram nas mãos da estreante Kelly Marcel, que mostra dificuldade em juntar cenas de forma natural e empolgante. Em várias ocasiões, parece não haver comunicação clara entre a trama principal e o que está sendo mostrado na tela. O roteiro, por sua vez, parece perdido e vazio até nas coisas mais superficiais, fazendo o filme subestimar a capacidade do público em entender o que está acontecendo. Conceitos são repetidos constantemente, e o texto transparece insegurança, seja nas piadas ou nas cenas de conflito, onde tudo é mastigado para o espectador.

Em relação às atuações, é quase “triste” ver um ator tão versátil como Tom Hardy se sujeitando a uma produção que não quer extrair nem 1% do seu potencial. Ainda assim, em alguns momentos, sua interação com o simbionte é engraçada e natural, permitindo seu personagem ganhar algumas camadas dentro da narrativa. O restante do elenco é um desastre. Personagens como os interpretados por Juno Temple e Cristo Fernández, de Ted Lasso, são tão genéricos que o sentimento predominante é de vergonha alheia. O general Rex Strickland (Chiwetel Ejiofor) é um exemplo de personagem sem profundidade.

A presença do Deus Knull, com a voz de Andy Serkis, traz um toque maligno que consegue amedrontar em seu pouco tempo de tela, sendo talvez o único personagem interessante a ser trabalhado no futuro. Esperamos que em filmes melhores.

Mesmo abraçando o ridículo e o absurdo, Venom: A Última Rodada não consegue encontrar o tom certo para contar sua história. Se o objetivo era abraçar a “galhofa”, faltou criatividade nas cenas de ação que, teoricamente, deveriam ser épicas. A história pouco importa aqui, e mesmo assim, nada é feito de forma competente. Se essa realmente for a última dança, é um alívio para os fãs do personagem, que podem agora se livrar da ameaça de uma participação com o Homem-Aranha de Tom Holland.

O filme têm duas cenas pós-créditos, mas ambas desnecessárias e irrelevantes.

Venom: A Última Rodada chega aos cinemas em 24 de outubro de 2024, com distribuição da Sony Pictures.

1.5

Muito Ruim

Em uma última dança bagunçada e com um encerramento vergonhoso, Venom: A Última Rodada é um fim de uma trilogia que ninguém pediu e aguentava mais.