Pequenas Cartas Obscenas Pequenas Cartas Obscenas

Pequenas Cartas Obscenas | Crítica

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Pequenas Cartas Obscenas, filme dirigido por Thea Sharrock com roteiro de Jonny Sweet, é baseado em uma notícia real que causou alvoroço, um escândalo local que ganhou as manchetes nacionais na Inglaterra.

Nele, Rose Gooding (Jessie Buckley), uma imigrante irlandesa sem papas na língua, de espírito livre e com uma filha pequena, mudou-se para a pequena comunidade costeira de Littlehampton e fez amizade com sua vizinha, Edith Swan (Olivia Colman), uma mulher de meia-idade que morava com os pais. Após um tempo, a solteirona conservadora e extremamente religiosa passa a receber cartas repletas de xingamentos e ofensas. As duas mulheres estavam distantes após uma briga, então Edith acusa Rose de ser a autora dessas correspondências que assombram os bons costumes da vizinhança. Chocados e incomodados, os Swans chamam a polícia para levar a desbocada.

Logo, outros vizinhos começam a receber cartas maldosas, então Rose é formalmente acusada e levada pela polícia. Por conta desse alvoroço, Rose vai à julgamento e a história toma proporções nacionais. Porém, um grupo de mulheres locais observa o caso de perto e passa a investigar o crime por conta própria. Elas desconfiam que Rose não seja a culpada e a polícia, que é formada por homens idiotas e desajeitados não está ajudando em nada. Mas a policial feminina Gladys Moss (Anjana Vasan) resolve ajudar, ela se junta ao grupo de mulheres e desafia seus superiores em busca da verdade.

Apesar dos outros personagens terem seu charme, Rose e Edith são o coração do filme. A ótima Jessie Buckley interpreta Rose, uma mãe solo e obviamente a vítima dessa história, pois está se metendo em problemas por um crime que sabemos que ela não cometeu. Mas ela tem uma vantagem que a torna simpática aos olhos da maioria. Mesmo com uma boca suja e um temperamento explosivo, sua personalidade faz com que a vizinhança de alguma forma goste dela – assim como o público. Por baixo da superfície fora dos padrões de bom comportamento, Rose é gentil e se esforça para ser a melhor mãe possível para Nancy (Alisha Weir).

Já a aclamada Olivia Colman é Edith,  uma pessoa reprimida que acaba colocando a vizinha em apuros mesmo que não haja nenhuma evidência real de que ela seja autora das cartas. Puritana ao extremo e obrigada a viver uma vida doméstica terrível, ela sempre ressentiu a liberdade de Rose. O pai de Edith, Edward (Timothy Spall), é um maníaco por controle abusivo e ela atende as exigências dele com muita humildade. Quando as cartas começam a aparecer no jornal, Edith passa a gostar da fama repentina, principalmente porque as matérias destacam seu comportamento correto e digno diante de tamanha provação. Essa atenção toda desagrada seu pai, que começa a puni-la cada vez mais e a força a escrever versículos bíblicos repetidamente.

A primeira metade do filme estabelece a história e é rápida o suficiente para manter o interesse. O tom geral é de excentricidade e nos faz gostar de Rose, enquanto sentimos pena de Edith. Na segunda metade, quando Gladys inicia sua própria investigação particular, mesmo depois de ter sido demitida por insubordinação, é que o filme realmente decola. O plano de Gladys para provar a inocência de Rose e, com sorte, pegar o verdadeiro culpado em flagrante, requer criatividade e astúcia, bem como algumas vigilâncias improvisadas com aliados improváveis. Ainda que descobrir o autor das cartas não seja o mais relevante para o público, já que vai ficando cada vez mais óbvio quem pode estar destilando todo aquele veneno.

Pequenas Cartas Obscenas mostra como essa foi uma época em que as mulheres não tinham tanta liberdade quanto na Inglaterra de hoje. Edith sucumbe, enquanto Rose se rebela contra isso e é por isso que é tão divertido ver as duas se enfrentando. O filme não se  aprofunda nos motivos dessa época ser dessa forma, apenas conta uma história real de forma bastante leve, mas os eventos reais nos quais foi inspirado são moldados para contar uma história que tem algo a nos dizer um século depois. Algumas coisas melhoraram, mas outras permanecem iguais. O bullying contido nas cartas apenas mudou para os meios eletrônicos. Os comentários cheios de ódio deixados nas redes sociais não são nada diferentes das cartas de assédio enviadas pelos correios nessa história.

Uma pessoa pode ser perfeitamente agradável, mas quando se esconde atrás de um pseudônimo na internet, é deplorável. Enquanto outras podem estar sofrendo ódio gratuito simplesmente por viverem suas vidas de formas mais livres e serem felizes (o que pode ser apenas uma ilusão). Acredito que todos nós sabemos como isso funciona, pois este é o mundo em que vivemos.

 

Pequenas Cartas Obscenas chega aos cinemas brasileiros em 25 de julho, com distribuição da Sony Pictures.

3.5

Muito Bom

Pequenas Cartas Obscenas é um filme que conta, de forma muito divertida, uma história real que aconteceu há mais de um século, mas que permanece muito atual. Jessie Buckley e Olivia Colman estão ótimas em seus papéis de mulheres que são o oposto uma da outra.