Meu Sangue Ferve Por Você, de Paulo Machline, foi um dos grandes destaques do Festival do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Agora, o longa finalmente está chegando aos cinemas para ser visto pelo grande público! É uma comédia romântica musical colorida e vibrante, repleta de ginga e bom humor, que conta a história de amor entre Sidney Magal, um astro em ascensão no final dos anos de 1970, e sua grande paixão Magali West. No filme, eles são respectivamente interpretados por Filipe Bragança e Giovana Cordeiro.
Na segunda feira, 20 de maio, foi realizada a exibição do filme para a imprensa, seguida de uma conversa com Sidney Magal, o diretor Paulo Machline, as produtoras Diane Maia e Joana Mariani e os membros do elenco Filipe Bragança, Giovana Cordeiro, Caco Ciocler, Emanuelle Araújo, Tânia Toko, Sol Menezes e Sidney Santiago Kuanza.
Segundo as produtoras, o filme demorou cerca de 8 anos para ser feito. Após as ideias serem apresentadas, começou a pandemia e isso fez com que todo o projeto atrasasse. A ideia de fazer um filme surgiu em um jantar. Paulo Machline estava em uma festa na casa de Joana Mariani, na qual Magal e Magali também eram convidados. Eles se sentaram na mesma mesa, começaram a conversar e Machline perguntou como eles tinham se conhecido. Ele brinca que Magal fala bastante: “duas horas e meia depois a gente tinha um filme”.
“Eu gosto muito de falar, gente. Eu adoro falar. Principalmente quando é para falar a verdade. E a verdade é a minha história de amor com a minha mulher. É muito verdadeira, mesmo! Até hoje, cada vez que eu assisto ao filme eu me emociono demais.”, completa Magal.
Para Caco Ciocler, “a grande inteligência desse filme é pegar uma história e a partir dessa história você conhecer a vida e a carreira do Magal”, revelando a diferença entre Meu Sangue Ferve Por Você e outras cinebiografias recentes que tentam condensar toda a carreira de um artista em menos de duas horas.
“O Magal tem uma história de vida muito interessante. Se eu quisesse fazer uma história de origem, eu teria material para isso. Mas eu entendo, por tudo que eu ouvi dele, de Magali e de outras pessoas, no decorrer do caminho desse filme, eu entendi que essa história é o Magal. Entre todas elas, a que mais representa o íntimo dele é essa. Eu não poderia fazer esse filme com duas horas e meia e trazer outros elementos da vida dele, a gente perderia o fio da meada”, completa Paulo Machline.
Sidney Magal também falou sobre poder ver um filme com sua própria história enquanto está vivo, já que muitas das cinebiografias são póstumas. “É muito gratificante porque eu fui reconhecido, até na história do cinema que vai ficar aí por muito tempo, como um ser humano que acredita no amor, que acredita nas pessoas, que acredita nos seus instintos”.
O ator Filipe Bragança acabou entrando para o elenco de Meu Sangue Ferve Por Você após a pandemia e foi uma indicação da produtora e diretora Joana Mariani. Após o teste, que contou com mais de quarenta atores, o diretor Paulo Machline ficou encantado pelo trabalho dele. Para o teste ele fez um monólogo e cantou a música Me Chama Que Eu Vou. Um dos pontos que mais conquistou a equipe foi como ele conseguiu cantar de forma que lembra muito o próprio Sidney Magal.
O diretor falou sobre como foi o processo de criação do protagonista ao lado de Filipe: “Imitar o Magal, eu ia falar que é fácil, mas ele iria brigar comigo. Não é fácil, é dificílimo. Imitar o Magal seria uma solução simplista, uma solução fácil e que não me interessava. Antes de trazer o Magal para o processo, a gente começou um trabalho de construir o nosso Magal… Quando a gente traz o Magal para esse processo e a gente se aproxima das filmagens, a gente já tinha essa construção e a gente só fez o acabamento dos gestos, dos olhares, dos passos. Foi uma contribuição valiosíssima do Magal com o Filipe e da Magali com a Giovana, também”.
Segundo Filipe, “Magal nunca foi um artista que se propunha à uma performance comum, à um comportamento comum, muito pelo contrário. Eu acho que ele era um rebelde nas suas performances. Isso foi algo que me chamou muita atenção desde o início porque eu sabia que iria interpretar o Sidney Magal, então fui tentar mapear o que esse cara fazia, como ele dançava, como ele falava, quais eram os gestos, os olhares, os maneirismos etc. Mas era muito difícil fazer isso, porque não tinha regra nenhuma no que o cara fazia, nenhuma lógica. Ele dançava e dançava muito bem, mas não tinha nenhuma técnica de dança específica. A dança que ele fazia no palco era algo que tomava conta do corpo dele. É algo que eu tive que mapear muito bem e tentar entender, tentar encontrar uma lógica para essa dança magalesca tão única, tão autentica”.
O cantor fala sobre as danças quando o ator aborda o assunto: “Jorge Fernando, quando me dirigiu no Canecão, ele chegava no show da Lambada em 1990 e dizia ‘Magal, vou montar um balé e você vai fazer a coreografia junto’ e eu falava ‘não, não vou, não vou fazer dia nenhum porque a hora que eu sentir que o público está precisando de mim ali, eu vou sair do balé e vou pra lá… então não marca coreografia, eu não sou coreografável'”.
Ainda sobre a criação de seu personagem em Meu Sangue Ferve Por Você, Filipe disse: “foi algo que ele me disse que esclareceu bastante coisa nesse processo de pesquisa, que foi quando ele disse para eu libertar o meu feminino. Todos nós, homens e mulheres, temos um lado feminino e um masculino e o Magal era libertador. Interpretá-lo foi libertador, justamente porque a performance dele exigia justamente que libertasse esses dois lados. Tanto que, tanto homens quanto mulheres eram loucos pelo Magal”, completa o ator.
“Também me marcou muito quando eu pude dizer para ele abertamente que, se não soltasse seu lado feminino, não iria dar certo… Tem uma coisa que ele fez bonitinho. A mão não é um filme de terror, não é o Boris Karloff. A mão é uma coisa suave, o lado feminino, né? Esse menino conseguiu a coisa mais difícil pra mim: o olhar”, complementa Magal.
Emanuelle Araújo revelou ser fã do Magal desde criança, pois queria ser como o cantor. Para ela, “achava que o Magal me passava liberdade. Hoje eu não acho, hoje eu tenho certeza. Eu acho que a figura do Sidney e tudo que ele representava em uma época, ali no início dos anos 80, era muito revolucionário e para mim, como criança, isso impactou”. Quando foi convidada para o papel, ela topou na hora e ainda brincou: “perguntei para o Paulinho se eu poderia ser o Magal, ele não permitiu”.
“A melhor imitação no Faustão de Sidney Magal foi com a Emanuelle Araújo”, revela Magal.
As outras atrizes, Tânia Toko, Sol Menezes e Giovana Cordeiro, também revelaram que de alguma forma Sidney Magal fez parte da infância e da história de suas famílias, o que fez a participação delas em Meu Sangue Ferve Por Você ainda mais especial.
Mas nada como para Sidney Santiago Kuanza, que contou que sua mãe alugava botijões de gás para poder ver os shows do cantor, “então é muito significativo fazer um filme sobre ele”. O ator também falou um pouco sobre a criação de sua personagem drag queen. “O feminino do meu personagem foi muito inspirado em duas vanguardas que a gente teve no Brasil, a Cia. Baiana de Patifaria de teatro, de Salvador e o Dzi Croquettes, que foram artistas que eu estudei muito para construir essa personagem e mergulhar um pouco nessa Salvador transgressora, dos homossexuais que tinham vidas duplas. O contato com o Magal inspirava esse lugar de liberdade, porque nós vivíamos em uma ditadura, é importante dizer. Então, a própria trajetória do Magal é uma trajetória de muita rebeldia, né? Então, isso fornecia muito combustível pras pessoas serem quem elas desejavam ser em uma época em que isso era impossível”.
Meu Sangue Ferve Por Você chegará aos cinemas brasileiros no dia 30 de maio de 2024, com distribuição Manequim Filmes e produção assinada pela Mar Filmes e Amaia Produções.