Eu, Capitão Eu, Capitão

Eu, Capitão I Crítica

Divulgação

Eu, Capitão acompanha a jornada de dois adolescentes senegaleses, os primos Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall). Eles são amigos e tem muito carinho um pelo outro, então resolvem trabalhar, sem que seus pais saibam, para conseguirem dinheiro e viajarem juntos até a Europa – mais especificamente, até a Itália.

Seydou mora com a mãe e os irmãos em uma casa simples e a família leva uma vida sem luxos, mas no que parece ser uma comunidade bastante unida e alegre. Ele acredita que no velho continente poderá alcançar o estrelato como musico e ganhar dinheiro para dar melhores condições de vida para os que ficaram no Senegal.

Quando eles já conseguem o que julgam ser suficiente e encontram quem consiga preparar a viagem, Seydou conta à mãe que planeja viajar para o exterior. Ela o repreende, pois sabe das dificuldades que passam as pessoas que procuram esse caminho. O homem que arranja as viagens também tenta convencer os meninos de que essa não é uma boa ideia. Mesmo assim, os inocentes Seydou e Moussa iniciam a dura jornada, saindo de Dakar muito entusiasmados com a perspectiva de uma nova vida.

Depois de comprarem passaportes falsificados e subornarem policiais para evitarem serem presos, eles acabam ficando sem dinheiro rapidamente. Os dois jovens pagam caro para ficarem amontoados em um carro cheio de homens, mulheres e crianças de várias nacionalidades durante uma viagem extremamente acidentada pelo deserto do Saara. Quando um dos passageiros cai da caminhonete, os motoristas simplesmente continuam em frente. O horror que toma conta dos rostos atordoados dos meninos é visceral e eles começam a perceber que o caminho será muito mais complicado do que esperavam.

A certa altura, os primos devem completar a jornada no deserto a pé com vários viajantes, dos quais nem todos sobrevivem – e Seydou percebe, pela primeira vez, que ele próprio pode não viver para ver o seu destino. Fome, cansaço, violência e morte passam a ser as companhias dos meninos durante o percurso. Apesar eles iniciarem o caminho achando que tudo ficaria bem e cheios de esperança, o público certamente ficará apreensivo desde o início, pois quem está do lado de fora sabe das agonias vividas pelos refugiados e migrantes.

O roteiro foi escrito pelo diretor Matteo Garrone ao lado de Massimo Ceccherini, Massimo Gaudioso e Andrea Tagliaferri. Eles queriam fazer um filme que mostrasse um lado das histórias de imigração que não é comumente mostrado pela mídia. Para isso, ouviram os relatos de vários jovens que conseguiram completar essa travessia da África para a Europa e escreveram o roteiro se utilizando das histórias reais que aconteceram durante o percurso.

Ainda que seja uma história angustiante, o filme também tem elementos de fantasia surreal que fazem com que momentos horríveis ganhem uma certa beleza. Essas são marcas do trabalho do diretor, que costuma trazer um grande nível de realismo e também elementos de fábulas em seus trabalhos. Essa mistura faz com que Eu, Capitão mostre a jornada árdua de um migrante, mas também faz com que Seydou ganhe ares de herói, com sua bondade sendo exibida mesmo nas situações mais difíceis ao mesmo tempo em que sua inocência vai sendo perdida e abrindo caminho para decisões mais maduras.

Seguimos os garotos até o fim com grande suspense, imaginando se eles irão sobreviver e completar essa jornada, mantendo a esperança junto com eles e torcendo para que a chegada na Itália não seja um próximo capítulo repleto de mais horrores. Eu, Capitão é um filme que nos deixa indignados, angustiados e com uma enorme sensação de impotência, mas que definitivamente vale a pena ser visto.

 

Eu, Capitão já está em cartaz nos cinemas brasileiros, com distribuição da Pandora Filmes.

4

Ótimo

Com uma mistura de realismo impactante e elementos de fantasia, Eu, Capitão mostra as terríveis provações pelas quais dois jovens passam ao saírem do Senegal em uma jornada para chegarem à Itália, onde eles esperam ter uma vida melhor do que em sua terra natal.