Às Vezes Quero Sumir segue Fran (Daisy Ridley), uma funcionária de escritório retraída, tímida, solitária e deprimida, que trabalha em um local extremamente entediante e passa seus dias ouvindo conversas dolorosamente sem graça de seus colegas enquanto preenche planilhas, arquiva papéis e encomenda material de escritório. Fran sofre para pensar em uma mensagem sincera para o cartão de despedida de uma colega que vai se aposentar e com os exercícios para quebrar o gelo em uma reunião. Só se sente confortável quando está sozinha em frente ao seu computador.
Fran segue uma rotina igualmente pacata fora do trabalho, comendo comidas que parecem sem graça, dormindo cedo e frequentemente pensando na morte. Não de um jeito suicida, apenas imaginando situações que poderiam acontecer resultando na morte, pois se tornar um cadáver é algo que a atrai. Se adaptar à vida parece algo impossível para ela, que não parece sentir o conforto que as pessoas solitárias costumam encontrar em algumas das coisas do cotidiano. Ela apenas existe. Ela constrói um muro em volta de suas emoções e parece fugir para suas horríveis paisagens oníricas mórbidas porque não tem as ferramentas para interagir com as pessoas.
Os dias passam sempre iguais, com Fran ignorando seus colegas banais, usando um guarda roupa discreto e mergulhando nas planilhas de seu trabalho monótono. Então, um dia, Robert (Dave Merheje) passa a trabalhar na mesma empresa que ela e um desejo de conhecê-lo melhor surge em Fran. Eles começam a conversar por mensagens no escritório. Por algum motivo, Fran consegue divertir Robert e fazê-lo rir, isso parece inspirá-la a ousar um pouco de interação humana e sua linguagem corporal rígida passa a ser mais suave. Um sorriso tímido surge em seu rosto. Seus olhos, antes vidrados, agora anseiam por Robert.
Ele a convida para um encontro no cinema e tudo ocorre até que bem, então eles passam a se encontrar frequentemente fora do escritório. Robert se abre cada vez mais com Fran e também tenta fazer com que ela tenha interações com outras pessoas. Porém, a dificuldade de conexão que Fran tem começa a se tornar uma barreira para que esse relacionamento funcione. Mesmo se sentindo atraída por ele, Fran é uma auto sabotadora que não sabe agir de forma que não feche as portas para todos os tipos de relacionamento em sua vida, criando um abismo entre eles.
O filme foi rodado durante a pandemia de Covid. Apesar da doença não estar presente na trama, é fácil lembrar dos tempos em que tivemos que ficar isolados, já que Fran fica dividida entre o isolamento auto-imposto e um desejo de conexão. Depois de tanto tempo sozinha, viver com a solidão começa a parecer mais fácil do que enfrentar a perspectiva assustadora de se relacionar com outras pessoas.
A diretora Rachel Lambert fez um bom trabalho nas cenas que mostram Fran pensando em sua morte, elas são muito belas e refletem um lado criativo escondido da personagem. A escolha de mostra Fran em closes que focam em pequenos gestos enervantes também foi algo muito positivo.
Daisy Ridley faz um bom trabalho. Ela praticamente não tem falas e quando fala parece ser um grande esforço. Conseguimos sentir o drama da protagonista através de seus olhares, das mordidas no lábio, na sobrancelha franzida, nos olhares furtivos e nos pés remexendo nervosos embaixo da cadeira.
Às Vezes Quero Sumir funciona mais como um estudo sobre os efeitos da ansiedade social e da solidão, mostrando como a ordem pode ajudar a seguir em frente. Apesar de pensar que compartilhar qualquer coisa sobre ela mesma seja algo doloroso, quando Fran começa a sair desse mundinho no qual se inseriu – como quando conta uma piada boba a Robert ou participa de um jogo de mistério e assassinato – ela lentamente encontra a linguagem e a força para se comunicar e se conectar também, o que significa muito para ela.
Às Vezes Quero Sumir estreia em 23 de maio nos cinemas brasileiros, com distribuição da Synapse Distribution.
Muito bom
Com uma boa atuação de Daisy Ridley, Às Vezes Quero Sumir explora os efeitos terríveis da ansiedade social e da solidão, revelando como a conexão humana pode transformar a vida de alguém.