Nando Reis retorna aos palcos com a turnê “Uma Estrela Misteriosa”, um título que já carrega a essência poética e misteriosa que caracteriza sua obra solo. Após a reunião histórica com os Titãs, onde revisitou clássicos de sua trajetória na banda, Nando agora se dedica a um projeto pessoal que reflete a maturidade de décadas na estrada, somando novas criações às suas canções já consagradas. A turnê, que passa por 25 cidades do Brasil, mostra que o cantor e compositor não só resgata sua carreira solo com energia renovada, mas também continua relevante, ao unir nostalgia e inovação em apresentações que encantam tanto os fãs antigos quanto os novos.
Chegando a Fortaleza, o Iguatemi Hall foi palco de um show intimista, mas ao mesmo tempo poderoso. Nando Reis, sempre emotivo e envolvente, conseguiu fazer o público viajar por uma linha do tempo musical que percorre canções icônicas de sua carreira, mas também abraça as novidades de seu novo álbum. A escolha do setlist foi inteligente, equilibrando bem o ineditismo com o reconhecimento. Os fãs puderam ouvir desde os acordes de “Para Você Guardei o Amor”, cantada em uníssono com o público, até os acordes suaves de “Dois Rios”, gravada pelo Skank e que agora ganha uma interpretação pessoal e profunda. Além disso, as parcerias com Cássia Eller foram celebradas com “Relicário”, “O Segundo Sol”, “All Star” e “Luz dos Olhos”, relembrando como essas músicas, eternizadas na voz de Cássia, carregam também o DNA emocional e lírico de Nando. A plateia, a cada verso, parecia compreender essa profundidade, respondendo com um carinho evidente.
Um dos grandes destaques dessa turnê, e algo que merece aplausos adicionais, é a preocupação com a inclusão. Em tempos onde a acessibilidade precisa ser prioridade, Nando Reis mostrou que sua música não é apenas para todos, mas também com todos. O espaço reservado para pessoas com deficiência e a presença de três intérpretes de Libras em cada apresentação demonstram um compromisso sincero com a inclusão social. Essas medidas não são apenas um detalhe técnico, mas um reflexo do cuidado de Nando com o público que o acompanha e de seu desejo de garantir que sua arte possa ser acessível a todos. Os intérpretes de Libras, além de traduzirem as letras, também fizeram um belo trabalho ao interpretar a melodia e o sentimento por trás de cada canção, algo que definitivamente elevou a experiência do show para todos os presentes.
Outra surpresa que a turnê trouxe foi a participação especial de Peter Buck, guitarrista e cofundador do R.E.M., uma lenda viva da música alternativa. A presença de Buck no palco ao lado de Nando Reis é um encontro de gerações e estilos que enriquece ainda mais a atmosfera do show. O fato de Peter Buck ter colaborado na gravação de “Uma Estrela Misteriosa” já gerava expectativas, mas vê-lo tocar ao vivo, com sua guitarra inconfundível, criou um momento raro para os presentes. Contudo, foi um tanto triste perceber que poucos do público pareciam reconhecer a importância do guitarrista para a história do rock, especialmente para quem cresceu nos anos 80 e 90 ouvindo o R.E.M. e seu impacto cultural inegável. Mesmo assim, para os que sabiam, ver Buck ali foi um privilégio, algo que certamente ficará gravado na memória de quem tem a consciência histórica da música contemporânea.
Mas se o público não captou toda a importância de Buck, isso não diminuiu em nada a química entre eles e Nando Reis. O show seguiu com uma sintonia impressionante. O ponto alto foi, sem dúvida, “Por Onde Andei”, onde a voz de Nando se misturava à do público em uma harmonia emocionante. Era quase como se todos estivessem cantando para si mesmos, lembrando das próprias jornadas, perdas e reencontros. A banda que acompanha Nando, sempre afiada, também merece destaque, especialmente Sebastião Reis, filho do cantor, cuja presença no palco traz um toque emocional extra. A música “O Mundo é Bão, Sebastião” é um testemunho desse laço familiar, e vê-los dividindo o palco fortalece ainda mais o simbolismo dessa canção.
A turnê “Uma Estrela Misteriosa” tem todos os ingredientes para ser um sucesso: grandes músicas, uma banda talentosa, participações especiais e, sobretudo, um público fiel que continua a se identificar com a obra de Nando Reis. O novo álbum já se destaca pela qualidade e pelas nuances líricas que só Nando consegue imprimir, mas o ponto alto dessas apresentações é, sem dúvida, a sensação nostálgica de ouvir canções que já fazem parte da história musical do Brasil, mas que continuam atuais e tocantes. Para quem acompanha a carreira de Nando Reis há anos, essa turnê é uma celebração da continuidade e da renovação. Para os que estão chegando agora, é um convite a mergulhar em uma obra que transcende o tempo.