Como manter relevante uma revista em quadrinhos depois que seu personagem principal morre. Esse é o dilema de Alan Moore em “Flores do romance“, publicada originalmente em Swamp Thing #54 (em novembro de 1986), com arte de Rick Veitch e Alfredo Alcala. Agora Abigail Cable vai ser a protagonista da história?
“Tudo que nós temos em comum na vida, Dennis, é horror. Isso mesmo. É tudo que une a gente.”
Essas foram as palavras de Lizabeth Tremayne para Dennis Barclay em “Pontas soltas“, primeira edição de Alan Moore no Monstro do Pântano. Depois de uma noite de sexo, ela decide acabar com ele, que não reagiu bem. Fatores fazem que ela fique perdida, e ao invés de tentar ajudá-la, ele decide se aproveitar disso para tomar controle da vida dela.
Essa semente, plantada mais de trinta edições atrás, volta agora a tona agora, junto com outros elementos da edição anterior, “O jardim das delícias terrenas” em que o Monstro do Pântano foi – novamente – morto pela IDD.
Liz hoje é a sombra da pessoa que já foi. Antes era uma escritora e mulher independente. Hoje é uma mulher frágil e desconectada da realidade, cuja força de vontade quase não existe. Ela depende de Dennis para tudo, e quando sozinha fica em casa no escuro, quase sem ter o que comer ou o que fazer.
Depois de alguns dias sozinha, porém, ela decide que quer assistir TV. Dennis plantou diversas mentiras em sua cabeça para ter um domínio maior sobre ela. Coisas como pessoas sofrendo choques fatais ao usar tomadas ou ao tomar banho. Ainda assim, ela consegue – depois de muito sofrimento – assistir TV e descobre que Abigail está vida.
Ela consegue ir até Abby. Problema que pouco depois chega Dennis.
O legado de “As flores do romance”
Essa história é baseada em fato que aconteceu com uma familiar do próprio Alan Moore. Talvez essa história já estivesse preparada desde o início, quando os personagens saíram da história na primeira edição.
O peso de “As flores do romance” é enorme. Na edição anterior o Monstro do Pântano morreu. Como Moore conseguiria manter a história interessante. E sem voltar com o personagem logo depois de uma edição.
Abigail é uma excelente personagem, e Alan Moore consegue trabalhar a personagem de uma maneira que ela nunca é só uma mocinha indefesa esperando ser salva pelo herói. Está edição é, muito provavelmente, sua consagração. Ela salva o dia, sem contar com ninguém alem dela mesma.
Um interessante drama psicológico, que resgata o horror pessoal das primeiras edições. Também pode guardar semelhanças com “A maldição“, pela questão feminista.
Se fosse feita uma lista de melhores edições soltas de toda a passagem de Alan Moore no Monstro do Pântano, esta aqui estaria.
Próxima edição: De terra a terra