Depois de algumas aventuras pelos Estados Unidos, agora a Saga do Monstro do Pântano volta a sua terra natal, a Louisiana. “Mudanças sulistas” (publicada originalmente em The Saga of the Swamp Thing #41, em outubro de 1985) faz com que o Monstro do Pântano encare uma espécia de mansão mal-assombrada. A história tem roteiro de Alan Moore e arte de Stephen Bissette e Alfredo Alcala.
Existe uma mansão na Louisiana, próxima do pântano. É o casarão Jackson, abandonada e em ruínas. Ela era a casa principal de Robertaland, com suas enormes plantações e diversos escravos. É um lugar que as pessoas não vão, e seu cemitério guarda espíritos inquietos, que se lembram da tragédia que aconteceu.
Ou era, porque a mansão vai ser palco de uma novela de época. Estrelas vão contracenar em um drama. Richard Deal, um liberal, vai fazer um senhor de escravos; Billy Carton, um negro militante de seus direitos, um escravo; e Angela Lamb, uma racista, vai interpretar uma mulher senhora que se apaixona por um de seus escravos. Mal eles sabem que estão apenas repetindo uma história que já aconteceu há muitos anos atrás, com resultados trágicos para todos.
Enquanto o Monstro do Pântano e Abigail Cable percebem que há algo de errado, as pessoas que trabalham na produção começam a ver coisas estranhas. Elas lembram de coisas que não viveram, da época que Robertaland era uma rica casa, cheia de servos. Diversos negros da região são contratados como figurantes e começam a se comportar como se realmente tivessem morado naquela época. E Richard, Angela e Billy começam a se tornar Wesley e Charlotte Jackson, e William, o escravo.
O legado de “Mudanças sulistas”
Depois de falar sobre feminismo em “A maldição“, é a vez de Alan Moore falar sobre o racismo em “Mudanças sulistas”. Uma mansão mal-assombrada é uma excelente desculpa para falar sobre o racismo entranhado nos Estados Unidos, ainda mais no sul americano. Existe um diálogo de Abigail que pontua muito bem a situação:
“[…] Ou seja, no fim esses descendentes de escravos libertos fazem uma grana boa voltando a escravidão! Isso é engraçado ou triste?”
“É… humano” responde o Monstro do Pântano.
Apesar dos clichês clássicos de amor proibido, fazer eles reencenarem um amor de séculos atrás, agora em uma novela de época, mostra a sagacidade de Alan Moore. Deixar claro que algo assim não tem como terminar bem é ainda pior.
A saga do gótico americano, iniciada em “Padrões de crescimento“, segue em pleno vampor.
Próxima edição: Estranhos frutos