Phoebe compra seu absorvente. Esse é o início de “A Maldição” (publicada originalmente em The Saga of the Swamp Thing #40, setembro de 1985), história que coloca o Monstro do Pântano enfrentando mais um monstro clássico, e também um sério problema de nossa sociedade. O roteiro é de Alan Moore, com arte de Stephen Bissette e John Totleben.
Enquanto Phoebe faz suas compras, antes de voltar para sua casa, ela reflete sobre as mulheres da tribo Pennamaquot. Quando elas menstruavam, elas ficavam confinadas em uma cabana suspensas, impedidas de sentar, deitar e tocar qualquer coisa. Comida era dada a elas pelas anciãs através de espetos. Enquanto reflete sobre essa lenda e percebe ao seu redor indícios da violência que as mulheres sofrem, ela começa a se encher de raiva.
Seu marido Roy e ela recebem a visita de um casal de amigos, e ambos ficam humilhando-as, um falando da silhueta de sua esposa, enquanto o outro fala sobre mulheres naqueles dias. Phoebe sai para tomar um ar, e quando é confrontada pelo fato de ainda não ter cozinhado a janta, passa mal. E se transforma em um lobisomem.
Desde “Padrões de crescimento” o Monstro do Pântano tem trabalhado em conjunto com John Constantine para impedir as sombras que se alastram pelos Estados Unidos. Ele confidencia para Abgail, porém, que está cansado disso, e se sente usado por seu aliado. Que o último trabalho deles juntos será no Maine, conforme combinado no final de “História de pescador“.
Em Kennescook ele encontra uma força se erguendo. Uma força elemental, poderosa e antiga. Uma força que talvez ele não consiga enfrentar. E que sequer sabe se tem o direito de impedir. Enquanto isso Phoebe, já transformada, sai enfurecida pela cidade.
O legado de “A maldição”
Criada como uma ideia que surgiu para Stephen Bissette e John Totleben como um conto para a revista Heavy Metal, “A maldição” é uma profunda análise das violências que a mulher moderna sofre. Alan Moore, que sempre foi um fervoroso defensor das liberdades individuais, e principalmente das questões de gênero, escreveu um conto que joga uma luz em várias violências cotidianas.
Ainda antes de O Cavaleiro das Trevas, aclamada obra de Frank Miller, usar o elemento de contar a história através de noticiários de TV, aqui os artistas usam elementos do cenário para mostrar a objetificação feminina. São manequins com vestidos de noiva, revistas pornográficas que aparecem pelos cantos, mulheres idealizadas em capas de produtos femininos. Tudo isso sempre para colocar Phoebe em um contexto de submissão e aversão pelo lugar que está.
Alan Moore cuida inclusive para não advogar sobre um tema que não tem a vivência necessária. Quando o Monstro do Pântano vai enfrentar o lobisomem, ele afirma que não sabe o que está acontecendo. Que quer ajudar, mas não entende o que ela está passando. Suas dúvidas e hesitações são um reflexo do sentimento do homem, que muitas vezes não consegue criar a empatia necessária. E, mesmo quando consegue, precisa entender seu lugar de fala, e apoiar as mulheres sem tirar seu protagonismo.
Para uma revista lançada ainda em 1985, é impressionante esses cuidados com a temática feminista. A Saga do Monstro do Pântano mais uma vez bastante a frente de seu tempo.