O início de uma das mais importantes e célebres séries de quadrinhos de todos os tempos. Prelúdios e Noturnos é o primeiro arco de Sandman, obra prima de Neil Gaiman. Conta com arte de Sam Kieth e Mike Dringenberg, e é comporto por Sandman #1 até a #8, e capas de Dave McKean. Foi lançado pela DC Comics, já que o selo Vertigo ainda não existia.
É aqui, em Prelúdios e Noturnos, que Neil Gaiman começa a desenhar a grande tapeçaria que viria ser a mitologia de Sandman. O leitor de primeira viagem começa a se acostumar com o nome Perpétuos, e a ligação entre o Sonho e a Morte, e alguns dos outros irmãos, como Destino, Desespero e outros. Ainda assim não é dada nenhuma explicação clara sobre o que é o Sonho, apenas que ele é o “rei dos sonhos”, talvez um deus dos sonhos. Isso só vai ser explicado ainda mais para frente.
“O sono dos justos” é a história da primeira edição. Durante a Primeira Guerra Mundial a Ordem dos Antigos Mistérios, liderada por Roderick Burguess, o “lorde Magus“, faz um ritual para prender a Morte. O ritual falha, e quem acaba aprisionado é um ser misterioso. Burguess suspeita que ele seja na realidade o Sonho.
Sandman fica setenta anos preso em uma redoma de cristal. Isso desencadeia uma série de perturbações no mundo. Pessoas não conseguem dormir, não sonham mais. Surgem uma série de doenças envolvendo dormir, e são acompanhadas a vida de algumas pessoas específicas. Graças a esse incidente, Wesley Doods assume o manto de Sandman e sai caçando criminosos, segundo Neil Gaiman, numa tentativa do universo de completar algo que está faltando.
O problema é que enquanto esteve preso, a Ordem acabou rompendo, e as ferramentas do Sandman foram roubadas e perdidas. Elas foram espalhadas e ninguém sabe onde estão, ou o que são realmente.
A segunda edição, “Anfitriões imperfeitos“, Sandman volta ao reino dos sonhos depois de escapar, mas está muito fraco. Ele acaba encontrando Caim e Abel, que moram na Casa dos Mistérios e a Mansão dos Segredos. Descobre que sem ele, seu reino foi se apagando. Com ajuda da Hécade, a trindade de feiticeiras, descobre o paradeiro de suas ferramentas.
Aqui a série usa de um artifício narrativo para dar direção a trama: Sandman vai atrás de itens mágicos, que estão espalhados. A algibeira, o elmo e o rubi. Itens que ele criou há muito tempo atrás e que deu um pouco de sua essência. Apenas de posse deles estará completo.
Ethel Cripps, que fora amante de Burguess, vai visitar seu filho no Asilo Arkham. Ele atende pelo nome de Doutor Destino, e foi um inimigo da Liga da Justiça. Ele usava o rubi para tornar sonhos reais, e fez diversos experimentos com ele.
A algibeira esteve em posse de John Constantine. Em “… sonhe um breve sonho comigo” O Sandman vai visitá-lo e saem a caça do item mágico. Eles o encontram na casa de uma ex-namorada de John, que viciada se deixou destruir pelos sonhos da areia.
O elmo está no inferno, e já armado de sua algibeira e um pouco mais de sua essência primordial, o Sonho vai para lá em “Uma esperança no inferno“. Etrigan é o convidado que recepciona Sandman, e ambos passam pela jaula de Nada, um antigo amor do Perpétuo.
O inferno agora é um triunvirato, composto por Lúcifer, Belzebu e Azazel. Eles convocam todos os demônios para as planícies, e o elmo é encontrado com Corozon, um duque. O Sandman precisa enfrentar este demônio em uma disputa de “realidade”, um momento clássico não só de Prelúdios e Noturnos, como de toda a série.
De posse do elmo e da algibeira, Sandman vai precisar buscar o rubi com a Liga da Justiça. Em “Passageiros” ele se encontra com o Senhor Milagre e o Caçador de Marte, para descobrir com quem está sua ferramenta. Destino, esse, que foge do Arkham e parte ele também em busca do rubi.
“Esperando o fim do mundo” tem uma estética que muda bastante o que vemos até então. Neil Gaiman tira o protagonismo de Sandman e coloca a história em um restaurante. Destino não deixa que eles saiam de lá, e se diverte com os conflitos que acontecem no local. Cada personagem tem um destaque nesta história, sonhos e motivações. E segredos sinistros.
“Som e fúria” mostra o conflito entre o Sonho e o Doutor Destino. Esse capítulo é o primeiro a não ter arte de Sam Kieth, e sim de Malcom Jones III. É um conflito no reino dos sonhos, que se reflete em diversas pessoas. É também a primeira aparição, ainda que ligeira, do Destino, outro irmão de Sandman.
Por fim, “O som de suas asas” é o epílogo de Prelúdios e Noturnos. Sonho encontra sua irmã mais velha, a Morte, e ambos conversam e alimentam os pombos em um parque.
O legado de “Prelúdios e Noturnos”
Fica bem claro, desde o início, que Neil Gaiman é um profundo conhecedor do universo DC Comics, bem como de cultura pop e mitologia. Existem referência gritantes por todo o arco Prelúdios e Noturnos.
Em primeiro lugar é importante ver os links com o Monstro do Pântano, do Alan Moore. Desde a aparição de Caim e Abel, como em Abandonadas casas, Etrigan em “O sono da razão…” até John Constantine. É visível as relações entre ambas as obras, tanto que futuramente iram compor um “universo Vertigo” compartilhado.
Nessa época tudo ainda era DC Comics, então a Liga da Justiça aparece. A versão da Liga Internacional, de Keith Giffen e J. M. de Matteis. O Senhor Milagre e o Caçador de Marte eram personagens constantes na obra. É dado um destaque especial para a criação de Jack Kirby, que hoje é estrela de uma minissérie de Tom King.
É com o Caçador de Marte que Neil Gaiman aproveita para enfatizar que a aparência do Sonho depende de quem o olha. Ele é essa figura branca e magra para uns, mas para J’onn J’onzz ele parece uma grande cabeça flamejante. No inferno Nada o tinha visto como um homem negro, mas com os mesmos olhos negros.
Apesar de muito bom e diferente, Prelúdios e Noturnos não é uma obra tão grandiosa como Sandman iria se tornar. É um quadrinho de terror bastante competente, mas seu melhor momento viria depois.