Comemorando o aniversário de 65 anos do mago Alan Moore, nada melhor que relembrar uma de suas obras mais aclamadas: Do Inferno, graphic novel que narra os assassinatos de Jack, o Estripador. Os desenhos são de Eddie Campbell. Ele foi lançado no Brasil, de maneira mais recente, em um volume único enorme pela Editora Veneta.
Lançada na Inglaterra entre o final dos anos 1980 e 1990, Do Inferno foi fruto de uma extensa pesquisa, tanto dos acontecimentos quanto dos costumes da época. Alan Moore baseou a obra nas teorias do jornalista Stephen Knight, apesar de não concordar integralmente com elas. No final do livro, Moore faz um extenso capítulo onde ele fundamenta os acontecimentos da trama, explicando o que é fato, o que tal livro supõe que aconteceu, o que pode ter acontecido e o que ele inventou. Obviamente que a obra não pode ser considerada fato, mas é visível que tanto ele quanto Eddie Campbell em tentar fazer tudo parecer real.
Até hoje não se sabe com certeza quem foi Jack, o Estripador. Sabe-se que foi um assassino serial que, em 1888, atuou em Whitechapel, distrito de Londres, matando prostitutas. O caso ganhou muita repercussão na mídia sensacionalista e até hoje é motivo de especulação sobre quem seria o assassino.
A teoria de Knight afirma que os assassinatos realizados por Jack, o Estripador foram realizados devido a um complô entre a família real britânica e os maçons para acobertar um filho gerado por um herdeiro do trono. Isso pode parecer spoilers, mas não é, pois é revelado bem no início da trama. Assim como a identidade do assassino, sir William Gull, médico real e maçom do mais alto escalão.
Príncipe Eddie casou sem permissão da família com uma plebeia, Annie Crook e gerou uma criança. Ao saber disso, a rainha Vitória manda Gull resolver a situação. Ela faz uma cirurgia em Annie, enlouquecendo-a e a manda para um sanatório. A criança fica com os pais dela, que não sabem quem é o pai. Quatro prostitutas, amigas de Annie, decidem chantagear um amigo de Eddie por causa da criança. A rainha fica sabendo e manda Gull elimina-las.
Pode parecer que Do Inferno perde força ao revelar os grandes mistérios, mas não é isso que acontece. Acompanhamos o dia-a-dia das prostitutas, e acabamos descobrindo como era viver na Londres do final do século XIX. E acompanhamos a degradação mental de Gull, que enlouquece e acredita que seus assassinatos são parte de um ritual para garantir a dominação dos homens em relação as mulheres. Ele tem visões depois de matar, e chega a ter um vislumbre do futuro, um século depois de seus assassinatos.
Alan Moore cria em Do Inferno uma trama densa e pesada. Ela é dividida em dez capítulos que aumentam e depois diminuem de tamanho. É uma leitura que cansa, que é preciso ler e reler para entender o que está acontecendo. Ainda assim, é extremamente recompensadora. Uma verdadeira obra prima da Nona Arte. Vale ler e reler.