Antes de mais nada, gostaria de declarar que ainda não vi The Handmaid’s Tale. Como fã dos livros, precisava ler a história original antes da adaptação e assim o fiz. Felizmente, recebi O Conto da Aia da Editora Rocco e logo comecei a leitura. Afinal, estamos falando de uma das séries mais faladas dos últimos tempos. Uma vez que estou acostumada com tramas mais leves de ficção, o livro me pegou de surpresa. Diferente de tudo aquilo que já tive a oportunidade de ler, a história nos traz uma realidade completamente bizarra, mas longe de ser irreal. Em virtude de sua semelhança com algumas das sociedades mundiais, a sociedade descrita por Margaret Atwood choca o leitor. Seja como for, tal fato somado a popularidade da série me fez trazer O Conto da Aia para o Ler é Bom, Vai! de hoje.
Sinopse
Escrito em 1985, o romance distópico O Conto Da Aia tornou-se um dos livros mais comentados em todo o mundo nos últimos meses, voltando a ocupar posição de destaque nas listas do mais vendidos em diversos países. Além de ter inspirado a série homônima produzida pelo canal de streaming Hulu, a ficção futurista de Atwood, ambientada num Estado teocrático e totalitário em que as mulheres são vítimas preferenciais de opressão, tornando-se propriedade do governo, e o fundamentalismo se fortalece como força política, ganhou status de oráculo dos EUA da era Trump.
O Livro
A trama é narrada em primeira pessoa pela protagonista, que recebe o nome de Offred. Embora se refira a si mesmo dessa forma, ficamos sabendo que não é esse seu nome de batismo. O Conto da Aia se passa na República de Gilead, onde uma revolução teocrática radical se instalou. O país passou a ser governado por militares cristãos com ideais pra lá de arcaicos. Por consequência, as mulheres são ignoradas e excluídas da sociedade, recebendo funções e sendo divididas em castas. Nelas, cada uma tem uma função específica.
Primeiramente temos as Marthas, responsáveis pelos serviços domésticos. Em seguida, as Esposas dos Comandantes, que como o nome já diz, possuem importância em função de seu marido. Além delas temos as Aias, como a protagonista, cuja função é reproduzir. Finalmente temos as Tias, senhoras idosas que provém educação para as mulheres, mas cujos ensinos são voltados para a servidão e submissão. Na República de Gilead, ter nascido mulher é praticamente um castigo. Elas ocupam o nível mais baixo da sociedade, e por isso não têm direito a se expressar e/ou ter vontades próprias. Elas não podem inclusive, saber ler ou escrever.
Offred é uma aia e nos conta um pouco de sua vida na casa do Comandante. Seu objetivo principal é reproduzir, mas isso não a impede de relembrar os dias em que era livre. Mesmo que pareçam exageradas, as situações descritas por ela são assustadoras. Não pense que gerar um filho é fácil, pois uma onda de radiação deixou muitas mulheres inférteis.
“Tento não pensar demais. Como outras coisas agora, os pensamentos devem ser racionados. Há muita coisa em que não é produtivo pensar. Pensar pode prejudicar suas chances, e eu pretendo durar.”
Surpreendentemente, não são apenas os homens que subjugam as mulheres. A figura das Tias, por exemplo, prioriza seus privilégios em função do bem estar de suas companheiras. É ainda mais perturbador pensarmos que caso isso acontecesse nos dias atuais, teríamos exatamente o mesmo cenário.
O Que Achamos de O Conto da Aia?
O livro foi provavelmente, o melhor e o pior livro que li esse ano. Demorei – e muito – para engatar a leitura, além de ter levado mais do que o tempo necessário para terminá-la. A história é muito boa e bem descrita, mas a falta de grandes momentos a torna um pouco monótona. Entretanto, se você for uma pessoa paciente, Atwood irá lhe recompensar.
A leitura causa desconfortos e nos faz querer entrar dentro das páginas para fazer alguma coisa. Caso você não tenha sentido isso, recomendo que procure um psicólogo. Brincadeiras a parte, a autora acerta em nos provocar tais sensações, pois nos alerta da realidade de sua história. Quando pensamos no atual governo norte-americano, por exemplo, não é difícil pensar que o presidente parece ter saído da República de Gilead. E o que é mais assustador? A trama de O Conto da Aia foi publicada em 1985. 33 anos depois e ainda temos sociedades vivendo dentro do livro.
Podemos dizer que a história de Margaret Atwood é uma forma de protesto. E qual a melhor forma de ir contra uma linha de pensamento do que mostrando o quão errada ela está? O que acontece em Gilead é terrível e monstruoso, mas não muito diferente do que temos no mundo hoje em dia. Esta está longe de ser a história mais feliz do mundo, contudo, é extremamente necessária. Mesmo que não tenha ficado ansiosa com o livro, não nego sua importância.