Durante uma visita feita a Editora Record no Rio de Janeiro, tive a chance de ver todas as etapas do processo de montagem de um livro, desde a impressão das páginas até a junção de tudo. Como se ter essa oportunidade não fosse algo maravilhoso o suficiente, ainda recebi alguns exemplares publicados pela Editora. Entre eles estava Um Tom Mais Escuro de Magia, de V.E. Schwab. Além da capa misteriosa em tons de vermelho, preto, cinza e branco, ter a palavra magia no título já me chamou atenção e, após ler as 415 páginas, posso afirmar que isso é algo que não falta na trama de Schwab. Finalmente, o comentário feito pelo jornal britânico The Guardian presente na capa foi o toque final para trazer a trama ao Ler é Bom, Vai! de hoje. “Um livro para fãs de Neil Gaiman”.
“Kell é um dos últimos Viajantes — magos com uma habilidade rara e cobiçada de viajar entre universos paralelos conectados por uma cidade mágica. Existe a Londres Cinza, suja e enfadonha, sem magia alguma e com um rei louco — George III. A Londres Vermelha, onde vida e magia são reverenciadas, e onde Kell foi criado ao lado de Rhy Maresh, o boêmio herdeiro de um império próspero. A Londres Branca: um lugar onde se luta para controlar a magia, e onde a magia reage, drenando a cidade até os ossos. E era uma vez… a Londres Negra. Mas ninguém mais fala sobre ela (…) Fugindo para a Londres Cinza, Kell esbarra com Delilah Bard, uma ladra com grandes aspirações. Para salvar todos os mundos, Kell e Lila primeiro precisam permanecer vivos.”
Logo na sinopse já é possível entender a escolha das cores da capa. Como descrito acima, os protagonistas vivem em um universo dividido em quatro Londres: a cinza, a branca, a vermelha e a preta. Ambientadas em 1819, não são apenas os nomes que diferenciam cada uma. Enquanto a Vermelha transborda magia, a Preta foi esquecida e deixada no passado. É na primeira que vive Kell, um Antari pertencente a realeza vermelha e, que usa sua habilidade de transitar pelas Londres para entregar correspondências entre seus governantes. O jovem desenvolveu o proibido hábito de colecionar objetos de cada uma das quatro localidades, usando-os em seus negócios com outros colecionadores. Quando ele se depara com um objeto misterioso e perigoso, a vida de todas as pessoas do universo corre perigo – principalmente a sua.
Schwab optou por narrar o livro em terceira pessoa, o que nos possibilita conhecer claramente todos os personagens. Pode parecer um pouco complicado de entender tudo no começo, mas fique tranquilo, a autora nos dá todos os detalhes e circunstância dos acontecimentos. Mesmo sendo um livro grande, não há um momento em que não queiramos nos convencer de que serão só mais cinco páginas. O cenário das Londres é extremamente rico e, mesmo que não tenhamos fotos ou ilustrações, é claramente possível visualizar o universo que circunda os protagonistas. Confesso que fiquei com medo da trama se tornar repetitiva e cansativa, mas felizmente isso não acontece. Devorei as mais de 400 páginas em poucos dias e já estou ansiosa para o próximo capítulo.
Por ser uma história fantástica, é necessário que seja contada aos poucos e sem pressa de divulgar as informações. Mesmo sendo apenas o primeiro volume, não são deixadas pontas soltas ou informações mal acabadas ao terminarmos a leitura. Kell pode ser o protagonista inicial, mas a maneira como a autora introduz Lila na história é fascinante. Em poucos minutos já nos vemos encantados pela menina e por toda sua espontaneidade. Enquanto o Antari é mais sério e responsável, a garota reflete o nosso lado da trama. Ela é humana, é jovem e destemida, além de cansada de viver no clima monótono da Londres cinza. No auge dos seus 19 anos, Lila ganha a vida roubando bolsos e pessoas desatentas – como Kell. Seus caminhos se cruzam e os dois formam a melhor dupla de heróis que você respeita. Com diálogos tensos e hilários, a dupla toma para si a responsabilidade de selecionar crimes de proporções maiores do que eles imaginam.
“– Peço desculpas por qualquer coisa que eu tenha feito. Eu não era eu mesmo.
– Peço desculpas por ter atirado na sua perna – falou Lila – Eu era totalmente eu mesma.”
Uma das coisas que mais me agradou em Um Tom Mais Escuro de Magia foi não ter o tradicional lado romântico de histórias de ficção. Não sou fã de clichês e encontrar um livro que não os tenha foi muito bom. Em algum momento você provavelmente estará torcendo para que Lila e Kell fiquem juntos – acreditem, eu fiz isso – mas isso está longe de ser o objeto principal de Schwab. Ambos são personagens fortes e complexos em suas próprias maneiras, sendo essenciais para a construção da trama.
“- O amor não nos impede de congelar até a morte, Kell – continuou ela. – Ou de passar fome, ou de ser esfaqueada por causa do dinheiro em seu bolso. O amor não nos compra nada, então fique feliz pelo que você tem e por quem tem, porque você pode até querer coisas, mas não precisa delas.”
Caso você seja, assim como eu, um fã de livros de fantasia…Um Tom Mais Escuro de Magia é pra você!