Quando Eu me Encontrar | Crítica Quando Eu me Encontrar | Crítica

Quando Eu me Encontrar | Crítica

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O cinema tem uma magia singular: a capacidade de nos transportar para a realidade de outros, de nos fazer viver experiências que não são nossas, mas que, de algum modo, ressoam com nossas emoções mais íntimas. E é exatamente essa qualidade que Quando Eu Me Encontrar, o longa de estreia de Amanda Pontes e Michelline Helena, captura tão bem. A dupla, já conhecida por trabalhos como A Filha do Palhaço, Do Que Se Faz de Conta e o documentário Topofilia, entrega aqui uma obra cheia de delicadezas e sutilezas. Vencedor de Melhor Filme e Melhor Roteiro pelo Júri da Crítica no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba 2023, este filme nos convida a mergulhar em um drama universal, ambientado na cidade de Fortaleza, no Ceará, com uma profundidade emocional que reverbera mesmo após os créditos finais.

Quando Eu Me Encontrar | Crítica

A trama central de Quando Eu Me Encontrar gira em torno da ausência. A jovem Dayane se despede, e sua partida é o catalisador para uma série de transformações na vida daqueles que a cercam. Sua mãe, Marluce (interpretada com uma contenção poderosa por Luciana Souza), tenta manter uma fachada de força, mas o sofrimento é palpável em seus gestos contidos e olhares distantes. É uma dor silenciosa, daquelas que corroem por dentro, mas que, ao mesmo tempo, são reprimidas para manter uma sensação de normalidade. Marluce representa tantas mulheres, mães que são forçadas a serem fortes, a suportarem o insuportável, enquanto sua vida desmorona ao redor.

A irmã mais nova, Mariana (vivida por Pipa), enfrenta o desafio de encontrar seu espaço em uma nova escola, e aqui vemos o peso das expectativas, das comparações inevitáveis com a irmã mais velha. Mariana busca sua identidade, enquanto carrega o peso do luto familiar, um tema que a direção explora de forma quase intimista. Já Antônio (David Santos), o noivo de Dayane, embarca em uma jornada de desespero e vazio. Sua dor é expressa em uma busca incessante por respostas, e é na personagem de Cecília (Di Ferreira), a melhor amiga de Dayane, que ele tenta encontrar algum resquício do que perdeu. A relação entre Antônio e Cecília é um dos pontos de tensão mais interessantes do filme, pois é nela que se concentram os conflitos não ditos, os sentimentos ambíguos e as tentativas falhas de preencher o vazio deixado pela ausência de Dayane.

Um dos maiores trunfos do filme é sua capacidade de criar personagens reais, palpáveis, que lidam com dramas cotidianos. Não estamos diante de heróis ou vilões, mas de pessoas comuns que tentam, como podem, lidar com as adversidades da vida. O espectador se vê, em diversos momentos, refletido nas angústias e dilemas dessas figuras. Essa capacidade de conexão é uma das razões pelas quais o longa tem gerado tanto diálogo entre o público: quem nunca experimentou a sensação de estar perdido, de procurar respostas que parecem sempre fora de alcance?

No entanto, o que realmente dá alma ao filme é o uso da música. As cineastas empregam a trilha sonora de forma quase orgânica, usando as canções como uma extensão dos sentimentos dos personagens. As melodias narram aquilo que as palavras não conseguem expressar, criando uma atmosfera de melancolia e, ao mesmo tempo, de esperança. A música não é apenas um elemento decorativo, mas uma ferramenta narrativa que enriquece a profundidade do drama.

Ainda assim, é preciso falar sobre o que impede Quando Eu Me Encontrar de atingir o status de obra-prima. O elenco, em sua maioria, é formado por atores que carecem de experiência para carregar o peso emocional exigido pelo roteiro. Embora Luciana Souza e David Santos consigam entregar momentos de grande força, há uma oscilação notável entre as performances. Essa falta de consistência acaba prejudicando a imersão, especialmente no segundo e terceiro atos, que demandam uma carga dramática maior. As cineastas também, apesar de mostrarem grande sensibilidade na construção de seus personagens, parecem hesitar em momentos cruciais, deixando algumas situações com menos impacto do que poderiam ter.

Contudo, o final de Quando Eu Me Encontrar é de uma beleza poética inegável. Ele não entrega respostas fáceis, nem soluciona todos os dilemas que foram propostos ao longo da narrativa. Em vez disso, ele abraça a incerteza, a incompletude que define a vida. É um final que respeita a inteligência e a sensibilidade do espectador, oferecendo um fechamento que, embora sutil, deixa uma marca duradoura.

Em suma, Quando Eu Me Encontrar é uma estreia promissora para Amanda Pontes e Michelline Helena. Apesar de seus tropeços, o filme consegue capturar a essência dos dramas humanos com uma delicadeza rara no cinema contemporâneo. É uma obra que convida à reflexão e que, apesar de suas imperfeições, possui uma honestidade e autenticidade que a tornam memorável.

Com distribuição de Embaúba Filmes, Quando Eu Me Encontrar estreia nesta quinta-feira nos cinemas.

2.5

REGULAR

Quando Eu Me Encontrar é uma estreia promissora para Amanda Pontes e Michelline Helena. Apesar de seus tropeços, o filme consegue capturar a essência dos dramas humanos com uma delicadeza rara no cinema contemporâneo. É uma obra que convida à reflexão e que, apesar de suas imperfeições, possui uma honestidade e autenticidade que a tornam memorável.