Os Fantasmas Ainda se Divertem Os Fantasmas Ainda se Divertem

Os Fantasmas Ainda se Divertem | Crítica

Sequência do clássico filme de 1988 é uma viagem no tempo divertida e felizmente, maluca
Divulgação

O que esperar de uma sequência após 36 anos para sair do papel? É necessário explorar diversos cenários possíveis, no mínimo, interessantes para contar uma história que justifique essa longa espera. Os Fantasmas Se Divertem, de 1988, é uma obra incrivelmente bizarra e única na filmografia de Tim Burton, misturando gêneros e mostrando a criatividade do diretor em criar cenas engraçadas e, ao mesmo tempo, assustadoras.

Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice - Shopping Estação

Por conta desses e diversos outros fatores, o filme de 1988 virou um clássico, construindo uma legião de fãs até hoje. Obviamente, era questão de tempo até uma sequência chegar às telonas, mas, após mais de três décadas, com novas gerações de fãs e mudanças nos hábitos dos telespectadores, seria justificável contar uma nova história dentro desse mundo? Bom, apesar de alguns tropeços, Os Fantasmas Ainda Se Divertem se justifica ao servir como um túnel do tempo para os fãs, com fan services moderados e sem se apoiar totalmente no clássico original.

Nessa sequência, após uma tragédia familiar, três gerações da família Deetz voltam para Winter River. Ainda assombrada por seu passado, Lydia (Winona Ryder) vê seu mundo mudar quando, acidentalmente, sua filha Astrid (Jenna Ortega) abre um portal para o mundo pós-morte.

Mesmo homenageando o filme de 1988, a sequência entende seus limites e monta sua narrativa de forma independente. É como se Os Fantasmas Ainda Se Divertem começasse com diversas peças de um quebra-cabeça espalhadas, tornando compreensível o início mais “morno”, pois o longa precisava entender com o que deveria trabalhar para que as peças se encaixassem.

No entanto, algumas peças ficaram mal encaixadas, sugerindo uma falta de cuidado ao resolver suas narrativas. Aqui, diferente do antecessor, que seguia um único caminho, o filme apresenta muitas histórias paralelas que, no final, mais prejudicam do que engrandecem a história principal. Mas alguns desses problemas acabam se dissipando quando Michael Keaton aparece como Beetlejuice, protagonizando as melhores cenas do filme.

Keaton rouba a cena, seja pela presença única do seu personagem ou sua atuação maravilhosamente bizarra. O roteiro feito pelo trio Alfred Gough, Miles Millar e Seth Grahame-Smith engrandece e diversifica como abordar Beetlejuice de maneira única, seja com musicais ou monólogos que fazem qualquer um soltar boas risadas. Em momentos em que o filme começa a perder fôlego, é o fantasma traiçoeiro que levanta o astral e recupera a atenção do público.

Enquanto Keaton é a estrela do show, alguns personagens se contentam em ser apenas figurantes na história. Lydia, por exemplo, que possuía uma personalidade forte e única no clássico de 1988, agora passa boa parte do tempo perdida entre as diversas tramas pouco trabalhadas no filme. Sua filha, Astrid, também não fica para trás, pois, mesmo com algumas cenas divertidas, Jenna Ortega acaba entregando mais um papel no estilo Wandinha. Entretanto, é preciso apreciar a presença de Catherine O’Hara. Ao retornar como Delia, ela entrega um humor autêntico, ácido e natural, transportando os pensamentos do público para a telona.

Uma das maiores expectativas em relação ao elenco dessa sequência era a adição de Monica Bellucci e Willem Dafoe ao universo de Burton. No caso de Dafoe, sua participação como Wolf Jackson é meramente cômica e visual, sendo irrelevante para os acontecimentos principais do filme. Mas não decepciona; ver um ator tão versátil como ele se divertindo em tela é sempre agradável. No caso de Bellucci, desde a sua primeira aparição no trailer, ela foi a personagem que mais chamou minha atenção, mas, infelizmente, foi a que mais me decepcionou. Ela rouba a cena em muitos momentos, e o potencial de Dolores se destaca, trazendo uma ameaça real a Beetlejuice. Mas, no final das contas, foi jogada de canto em muitos momentos e recebeu um final extremamente decepcionante.

Meu maior medo em relação a essa nova produção era a parte técnica de Tim Burton, que recentemente deixou claro como seu estilo já estava ultrapassado. Mas, apesar de querer muitas vezes ser um filme de outra época e repetir estilos que já não dialogam tanto com o público atual, Burton consegue divertir com um horror cômico, afastando qualquer necessidade de efeitos especiais. A autenticidade era um fator primordial para o funcionamento desta sequência. Portanto, com a adição de efeitos práticos e a trilha sonora marcante de Danny Elfman, a atmosfera que amamos tanto no primeiro filme é transmitida novamente com sucesso.

O resultado é satisfatório, mas deixa a impressão de que poderia ter sido ainda melhor. Bastava direcionar melhor a trama, em vez de abrir diversas histórias que não se concluem de maneira satisfatória, deixando a terceira parte do filme extremamente apressada e, por vezes, confusa. Ao tentar engrandecer o que foi feito em 1988, o longa esquece que o que mais encanta os fãs no antecessor é a simplicidade da trama, capaz de abraçar o absurdo com o banal. Mesmo ao tentar abordar temas como luto e relação familiar, por conta dessa pressa, muitos momentos se tornam superficiais.

Talvez falte em Os Fantasmas Ainda Se Divertem a autenticidade e pureza do filme clássico, mas, mesmo assim, consegue divertir os fãs que esperavam anos por essa sequência, provando que ainda podem se divertir com o fantasma mais carismático do cinema.

3.5

BOM

Em “Os Fantasmas Ainda se Divertem”, Tim Burton nos leva para uma viagem no tempo que, apesar de não ser extremamente satisfatória, ainda sim consegue divertir com uma aventura bizarra e a presença de tela espetacular de Michael Keaton.