O Corvo O Corvo

O Corvo | Crítica

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Primeiramente, é preciso questionar se havia necessidade de adaptar novamente uma história tão bem contada há 30 anos. Ao fazer esse questionamento, seria necessário imaginar um cenário em que o filme de 1994 estivesse datado ou que houvesse um consenso geral de que talvez essa obra, no final das contas, não fosse tão boa assim. Mas não é esse o caso. Portanto, somente a ideia de fazer um remake para as telonas se torna incoerente e desnecessária. Infelizmente, não houve esse exercício coletivo na hora de aprovar uma nova adaptação para O Corvo.

Desde o primeiro trailer, o filme não demonstrava muita fidelidade, nem à HQ original, nem à obra de 1994, estrelada por Brandon Lee. Sua estética voltada para o público jovem já havia deixado claro que um dos maiores objetivos com esse remake seria atrair a atenção dessa faixa etária, modernizando o conceito original criado por James O’Barr. Essa nova releitura de fato acontece, mas o grande problema é que, aparentemente, o foco principal dessa produção foi trazer visuais modernos e estilos “descolados”, deixando os demais fatores, como a própria história, rasa e sem alma.

A história do filme gira em torno de Eric Draven (Bill Skarsgård), que, após encontrar o grande amor de sua vida, Shelly Webster (FKA twigs), vive um romance intenso e desvinculado de ambas as realidades. Porém, após serem brutalmente assassinados pelos demônios do passado de Shelly, Eric recebe uma nova chance de vingar sua namorada, atravessando o mundo dos vivos e dos mortos em uma jornada implacável.

Podemos até considerar a história promissora, tendo em vista os materiais originais para se inspirarem e diversos filmes de vingança para criar uma estética que fuja da mesmice. Infelizmente, mesmo com todos esses fatores que poderiam elevar o potencial dessa obra, a nova versão de O Corvo decide apresentar uma história com zero profundidade, com uma estética vazia e atuações caricatas, apesar de sua clara inspiração em dramas shakespearianos.

É curioso como o filme não se preocupa em construir nada, nem mesmo o relacionamento entre Eric e Shelly, que é o grande motivador da história do personagem principal. Mas não, o roteiro decide trilhar um caminho de ingenuidade, onde o amor entre os personagens é a salvação de tudo e todos. O grande problema é que Bill e FKA não possuem nenhuma química em tela, com atuações e interações constrangedoras, não convencendo em nenhum momento que essa relação é verossímil. Provavelmente, o principal fator disso ter acontecido é FKA twigs estar totalmente fora de sintonia com sua personagem e a história do longa, pois em diversas cenas em que deveria demonstrar qualquer tipo de reação ou sentimento, nada é transmitido. Isso torna as cenas em que ela está presente frustrantes e tediosas.

No caso de Bill Skarsgård… eu reconheço seu talento e potencial, mas aqui ele está irreconhecível, e não de um modo positivo. Toda sua estética foi criada para passar o sentimento de alguém solitário, deslocado do mundo e problemático, mas o que era para potencializar a atuação só se tornou caricato. A impressão que passa é que a principal referência para montar a aparência dessa nova versão foi o Coringa de Jared Leto. Entretanto, se as roupas descoladas e tatuagens mal feitas fossem o único problema, seria “menos pior”, pois o que realmente surpreende negativamente é a atuação de um ator com tantos méritos, parecer tão amadora como foi demonstrada. Em diversas cenas, o personagem de Bil não apresenta qualquer tipo de urgência. O que se vê são apenas expressões mal encenadas e uma leitura do personagem que não convence em nenhum momento. Ao final do filme, fiquei pensando se esse é o mesmo ator que brilhou ao dar vida ao palhaço Pennywise.

Em diversas cenas, parece que o filme se esquece da própria história. Nada tem consequência, e em nenhum momento a obra se preocupa em aprofundar as ações dos personagens e demonstrar o que de fato deveria estar sendo transmitido ao público. É como se o roteiro não se preocupasse em ter lógica, limitando-se a ter cenas que, em teoria, deveriam ser de tirar o fôlego, mas nem isso acontece. O diretor Rupert Sanders já demonstrou habilidade em criar cenários impressionantes, como em A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell, contudo, parece que ainda não entendeu que não adianta ter produtos visualmente atraentes, sem que eles tenham o mínimo de significado. Em O Corvo, isso é o que mais acontece, trafegando entre as luzes da cidade e suas iluminações, como se estivéssemos à margem da sociedade com o personagem principal. A intenção do diretor é clara, mas no final das contas, parece apenas um clipe de uma banda emo.

A trilha sonora é um dos grandes problemas dessa nova versão. As músicas não são ruins, longe disso, mas o problema aqui é como o filme decidiu usá-las, utilizando-as apenas como muletas para expressar os sentimentos dos personagens, que, por conta das atuações caricatas, são difíceis de entender. Essa decisão resulta em diversos momentos constrangedores, deixando claro como esse remake foi mal montado do começo ao fim.

O que era para ser uma nova abordagem para uma nova geração se tornou apenas uma sátira do filme de 1994. Infelizmente, poucos momentos de O Corvo empolgam, mas é preciso destacar que as cenas de ação são divertidas, embora completamente esquecíveis, e nem tentam ser mais do que são. É decepcionante ver remakes de obras clássicas sendo feitos de tal maneira. Acredito que, sim, novas abordagens precisam ser realizadas, mas em alguns momentos, é necessário se perguntar se realmente vale a pena. E nesse caso, não valeu.

Sendo assim, O Corvo é mais um filme que carece de expressividade e criatividade. Mesmo com boas intenções, essa nova adaptação não se propõe a sair do raso, contentando-se com a superficialidade de uma história que tinha muito potencial. Infelizmente, nesse caso, seria interessante olhar com mais cuidado e ver se é isso mesmo que o público quer, pois como diria aquele velho ditado que se encaixa com o contexto dessa história: “De boas intenções, o inferno está cheio”.

O Corvo já está em cartaz nos cinemas brasileiros.

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Péssimo

O Corvo, de 2024, tenta ser grandioso e inovador, mas no final é somente uma Fan Fic mal feita. Mesmo com diversas referências ao seu favor, a história do filme é rasa do começo ao fim, além de possuir uma estética visual vazia.