O Último Pub | Crítica O Último Pub | Crítica

O Último Pub | Crítica

Um convite à reflexão sobre questões que permanecem vitais e urgentes
Divulgação

Ken Loach se despede do cinema com O Último Pub, uma obra que sintetiza sua longa carreira de engajamento social e político. Este filme não é apenas um drama sobre a luta da classe trabalhadora, mas uma meditação sobre solidariedade, resistência e o impacto das mudanças econômicas e sociais. Ambientado em um vilarejo no nordeste da Inglaterra, a narrativa desenrola-se em um cenário de decadência pós-industrial. As minas, outrora o coração econômico da região, são fechadas, e as lojas e escolas que dependiam delas estão desaparecendo. A comunidade, outrora vibrante, agora está esvaziada, restando apenas aqueles que não têm para onde ir. Neste contexto de desolação, Loach introduz a questão dos refugiados sírios, que são deslocados para a área pelo governo britânico, forçando um confronto entre as tradições locais e a nova realidade multicultural.

 

O Último Pub | Crítica

O protagonista, TJ Ballantyne, interpretado por Dave Turner, representa o coração pulsante desta história. Proprietário do pub que dá nome ao filme, ele se esforça para manter seu negócio em meio à crise. Turner, que já colaborou com Loach em Eu, Daniel Blake e Você Não Estava Aqui, entrega uma performance crua e autêntica, capturando a essência de um homem comum lutando contra as adversidades. Sua interação com Yara, uma jovem síria vivida por Ebla Mari, é o fio condutor do filme. Yara, armada com uma câmera, se torna não apenas um observador do declínio da vila, mas também uma cronista das esperanças e desafios enfrentados por sua comunidade e pelos novos habitantes. A amizade que surge entre TJ e Yara é um testemunho da resiliência humana e da capacidade de encontrar conexão em meio à diferença e ao preconceito crescente.

Loach, aos 88 anos, reafirma sua habilidade de retratar a complexidade da experiência humana através de lentes de empatia e justiça social. O Último Pub é um microcosmo das preocupações contemporâneas, abordando a crise dos refugiados em paralelo com a diminuição do padrão de vida dos trabalhadores britânicos. O diretor não se esquiva de mostrar as tensões que surgem quando comunidades se sentem ameaçadas pela mudança, mas também destaca a possibilidade de crescimento e transformação através da empatia e do diálogo. Através de uma narrativa envolvente e personagens bem construídos, Loach convida o público a refletir sobre as realidades do mundo moderno, deixando uma mensagem poderosa e ressonante como seu legado final.

As imagens são preenchidas com um realismo que transporta o espectador para o vilarejo decadente, permitindo que sintam a opressão do ambiente e a fragilidade das vidas que retrata. O uso da câmera de Ebla Mari como uma ferramenta narrativa adiciona uma camada de metatexto ao filme, onde a observação se torna um ato de resistência e documentação. A trilha sonora, sutil e evocativa, complementa a atmosfera melancólica, mas também oferece notas de esperança que permeiam a história.

O Último Pub não é apenas uma despedida de Ken Loach do cinema, mas um convite à reflexão sobre questões que permanecem vitais e urgentes. Através de sua lente humanista, Loach ilumina as histórias dos esquecidos, oferecendo uma narrativa que é ao mesmo tempo um espelho e um farol. Seu filme final é uma declaração de amor à humanidade, com todas as suas falhas e belezas, e um lembrete de que a luta pela dignidade e justiça social continua, mesmo quando as luzes do pub finalmente se apagam.

Com distribuição da Synapse Distribution, O Último Pub estreia amanhã (8) nos cinemas brasileiros.

3

BOM

O Último Pub não é apenas uma despedida de Ken Loach do cinema, mas um convite à reflexão sobre questões que permanecem vitais e urgentes. Através de sua lente humanista, Loach ilumina as histórias dos esquecidos, oferecendo uma narrativa que é ao mesmo tempo um espelho e um farol.