Inspirado por filmes de vingança asiáticos e longas de ação inovadores, Dev Patel escreveu o roteiro de Fúria Primitiva ao lado de Paul Angunawela e John Collee. Ele também dirigiu e interpretou o protagonista, um homem que busca vingança contra os líderes corruptos que assassinaram sua mãe e continuam a prejudicar sistematicamente os pobres e desamparados da Índia. O filme se passa em uma cidade fictícia chamada Yatana e oferece uma grande dualidade: de um lado temos a miséria de um povo que sofre nas mãos de seus governantes, do outro lado estão os ricos e poderosos que oprimem essas pessoas.
O protagonista é um homem que ganha a vida em um clube de luta clandestino, sendo pago para perder suas lutas enquanto usa uma máscara de macaco. Através de flashbacks, descobrimos que ele vivia em uma bela floresta com sua mãe, que contava as histórias de uma divindade chamada Hanuman, o Deus Macaco. Mas então se tornou órfão quando um chefe de polícia corrupto e seus seguidores incendiaram sua vila em um ataque violento. Ele cresce com sede de vingança e completamente desamparado.
Depois de muito apanhar, ele finalmente consegue colocar seu plano em ação: se infiltrar na elite da sociedade e tentar acabar com as pessoas que o fizeram sofrer. Enganando a esposa de Rana (Sikandar Kher), o homem que ajudou a destruir sua aldeia e matar sua mãe, ele se aproxima da classe alta ao conseguir um emprego em um antro de bandidos e prostitutas cheios da grana, onde as drogas rolam soltas e dezenas de capangas estão só de olho em tudo o que está acontecendo. Prato cheio para que a violência role solta nos filmes do gênero! Mas, o que começa como uma simples missão de vingança pela sua mãe, acaba virando uma missão que vai além do protagonista, à medida que um líder religioso corrupto começa a subir ao poder.
Ao mesmo tempo em que promete muita porrada, Fúria Primitiva é um filme de ação que envolve o público emocionalmente do início ao fim, fazendo com que ele contemple a complexidade da vingança e da violência. Ao contrário do que estamos acostumados a ver em outros longas, o personagem de Patel é muito mais próximo da realidade. Ele se machuca, ele precisa de ajuda, ele nem sempre consegue se virar apenas com suas mãos. O ator fez um bom trabalho ao mostrar a vulnerabilidade de seu personagem e em fazer com que o público tenha empatia por ele. Além disso, Patel mostra algumas habilidades de artes marciais bastante eficientes e um corpo esculpido, que são um bônus.
Além da atuação, Patel soube conduzir de forma esplêndida o longa que escreveu. Algumas cenas são bastante experimentais, com planos que parecem meio confusos, mas a câmera na mão se movendo bruscamente e os cortes abruptos nos fazem mergulhar na ação que está acontecendo na tela. Muitas das cenas foram muito bem trabalhadas, com destaque para as lutas e uma cena no início do filme, quando um ladrão em uma cadeira de rodas rouba uma mulher em um café ao ar livre.
Ao ver o trailer, você pode até pensar que Fúria Primitiva é uma versão indiana de John Wick e realmente o filme tem inspiração nessa franquia tão querida pelo público. Patel replica principalmente a estética desses filmes e podemos perceber vários elementos reconhecíveis, como as cores neon que cercam um protagonista de terno em busca de vingança e que é capaz de lutar contra dezenas de oponentes de formas um tanto quanto criativas e violentas. Mas, o roteiro vai além e ultrapassa a trama da vingança pessoal, se tornando uma fábula sobre justiça social, folclore, política e religião, que mostra um retrato social muito interessante da Índia.
Fúria Primitiva chega aos cinemas em 23 de maio de 2024, com distribuição da Diamond Films.
Muito bom
Dev Patel, em sua estreia na direção, promete um filme de vingança repleto de pancadaria, mas entrega ainda mais. Fúria Primitiva tem todos os elementos que gostamos nos filmes de ação e ainda introduz temas sociais e fábulas indianas que agregam muito para a qualidade do filme. Vale a pena ver na telona!