Em parceria com a Diamond Films, o MIS exibe, no dia 20 de fevereiro, o filme indicado ao Oscar Zona de Interesse, em cartaz nos cinemas. A sessão, gratuita, abre a primeira edição do Ciclo de Cinema e Psicanálise de 2024, programa mensal da instituição, e traz um debate com a psicanalista Luciana Saddi e com o jornalista Moises Rabinovici, com mediação da psicanalista Raya Angel Zonana. Os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência na bilheteria do museu.
Dirigido por Jonathan Glazer, o longa-metragem ganhou o prêmio do júri na última edição do Festival de Cannes e foi indicado a cinco categorias do Oscar 2024, incluindo Melhor Direção e Melhor Filme. Na produção, que se passa durante a Segunda Guerra Mundial, Rudolf Höss (Christian Friedel), o comandante de Auschwitz, e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller), desfrutam de uma vida aparentemente comum e bucólica, em uma casa com jardim. Mas, por trás da fachada de tranquilidade, a família feliz vive, na verdade, ao lado do campo de concentração de Auschwitz. O dia a dia desses personagens se desenrola entre os gritos abafados de desespero de um genocídio em curso, pelo qual eles também são diretamente responsáveis.
Sobre o Ciclo de Cinema e Psicanálise
Programa mensal do MIS – instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo – que apresenta, a cada edição, um filme no Auditório MIS, seguido de debate mediado por Luciana Saddi, coordenadora de cinema e psicanálise da Diretoria de Cultura e Comunidade da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Em seguida, o público pode participar com perguntas, integrando novas perspectivas sobre a obra discutida.
Zona de Interesse por Luciana Saddi
O comandante de Auschwitz e esposa empenham-se em construir uma boa vida para a pequena família numa linda casa com imenso e colorido jardim vizinho ao campo. Diante da promoção e da respectiva transferência do comandante para outra cidade, a esposa se recusa a sair da casa e da vida de seus sonhos.
Nas entranhas da rotina familiar, diante das ambições de riqueza, aspirações de consumo e ideais de felicidade, observamos, estarrecidos, o desenrolar da vida cotidiana de família típica de classe média alemã que nega, ignora e desfruta do horror ao lado.
Zona de Interesse mimetiza a metodologia, a frieza e a racionalidade da indústria da morte construída pelos nazistas. Ao descrever banalidades diárias e apresentar um conflito superficial, talvez tolo, o filme revela, em forma e conteúdo, cinematografia genial para, entre tantos outros méritos, expor a banalidade do mal, termo usado por Hannah Arendt na ocasião do julgamento de Eichmann, em Jerusalém.
A trama coloca o espectador diante da cisão psíquica individual e coletiva produzida pelo nazismo, conceito psicanalítico que auxilia na elaboração e na compressão dos crimes contra a humanidade. O conhecimento sobre psicologia das massas e organizações defensivas do Eu, manipulação do ódio, sadismo, avidez, rancor, controle da informação e história da derrota alemã na primeira guerra também se fazem presentes no filme, de forma condensada.
Zona de Interesse não se limita ao passado, e talvez esse seja o aspecto mais interessante do filme. Ao apresentar apenas imagens cotidianas, reconstruções dos anos 1940, somos remetidos invariavelmente aos horrores do presente e às cisões que hoje perpetramos. O filme nos faz lembrar das palavras do Nobel de Literatura Imre Kertèsz que, ao sair de Auschwitz, passou a perceber o mundo todo como um grande campo de concentração.
Luciana Saddi, coordenadora do Programa de Cinema e Psicanálise da Diretoria de Cultura e Comunidade da SBPSP em parceria com o MIS e a Folha de S. Paulo
Sobre os debatedores
Luciana Saddi é psicanalista e escritora, membro efetivo e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), mestre em Psicologia pela PUC-SP e diretora de Cultura e Comunidade da SBPSP (2017/2020). É autora de “Educação para a morte” (Ed. Patuá), coautora dos livros “Alcoolismo – série o que fazer?” (Ed. Blucher) e “Maconha: os diversos aspectos, da história ao uso”. Além disso, Saddi é fundadora do Grupo Corpo e Cultura e coordenadora do Programa de Cinema e Psicanálise da Diretoria de Cultura e Comunidade da SBPSP em parceria com o MIS e a Folha de S.Paulo.
Moises Rabinovici é cofundador do Jornal da Tarde, correspondente em Israel e nos EUA para o grupo Estado, correspondente na França para a revista Época, editor-chefe do portal da Agência Estado, diretor do jornal Diário do Comércio e comentarista internacional da TV Bandeirantes. Autor do livro “Escritos com a pele” e coautor do livro “Jerusalém”.
Sobre a mediadora
Raya Angel Zonana é médica psiquiatra pela Faculdade de Medicina da USP, psicanalista, membro efetivo e docente pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. É editora-chefe de Calibán, Revista Latino-Americana de Psicanálise (2017/2022). Representante pela América Latina do Comitê de Preconceito, Discriminação e Racismo da Associação Psicanalítica Internacional.