Matrix Resurrections | Crítica

Matrix Resurrections chega quase 20 anos depois do final da trilogia das irmãs Lana e Lily Wachowski. Os três filmes revolucionaram o gênero sci-fi, e continuam sendo importantes até hoje. As obras se tornaram material de estudo, sendo descoberto que a trilogia é uma metáfora trans. Uma jornada pessoal das diretoras, que como muitos, lidavam com a identidade de gênero no início dos anos 2000. E não é só isso. Matrix é sobre filosofia, controle e livre arbítrio.

Matrix Resurrections | Crítica
Divulgação/Warner Bros.

CRÍTICA SEM SPOILERS!!!

Depois de anunciado, Matrix Resurrections quase foi cancelado. O longa atrasou sua produção devido à pandemia, e as irmãs Wachowski sofreram o baque da perda dos pais. Isso foi o motivo para apenas Lana seguir na direção, enquanto Lily resolveu dar um tempo para o luto.

Mas, o longa saiu, e com certeza dividirá opiniões. Para quem ama apenas o longa de 1999, não irá curtir tanto as discussões que o quarto filme traz. Discussões essas que fazem parte de Reloaded e Revolutions. Daí é muito importante estar com a memória fresca e ter compreendido a mensagem desses dois capítulos, que acabaram sendo subestimados por parte do público.

A trama apresenta uma nova perspectiva sobre o mundo da simulação da Matrix. E Thomas Anderson (Keanu Reeves) mais uma vez está preso naquilo que ele tanto lutou para se livrar.

Daí, começa algumas “polêmicas” sobre Matrix Resurrections. Era um filme necessário? Precisava de uma nova história? O roteiro traz essa discussão com os personagens quase quebrando a quarta parede e brincando sobre a forma como os estúdios sempre buscam revitalizar uma franquia.

Lana Wachowski desafia o público e faz uma crítica sobre a forma como consumimos conteúdo. Sempre querendo mais quando já basta. A ideia é simplesmente genial. Mas, ela passou um pouco do ponto com o excesso de piadas e a zoação de alguns personagens, incluindo a participação de uma figura importante dos longas anteriores. Contudo, sua função no filme foi apenas zoar e jogar na nossa cara que Matrix Resurrections jamais será como o original.

Mas o filme não fica abraçado na zoeira. Lana mais uma vez traz a discussão filosófica sobre escolhas. O luto também é abordado quando Neo deseja o retorno de Trinity, mesmo sabendo que ela pode estar feliz de onde está. Seria uma forma da própria diretora lidar com a perda dos pais e como nós próprios lidamos.

O visual do filme não tem nada de surpreendente. E mais uma vez, a narrativa brinca com a expectativa do público de querer mais um bullet time. Contudo, há grandes sequências de ação, com muitas cenas de luta.

O elenco está afinado, com Keanu Reeves não soando repetitivo como Neo. Ele encontrou o tom ideal para viver esse personagem. Contudo, o centro da história não é mais sobre Neo ser o escolhido. A narrativa é sobre Trinity, com Carrie-Anne Moss trazendo uma percepção nunca antes vista da personagem. Yahya Abdul-Mateen II faz o novo Morpheus. Porém, não é uma versão jovem de Laurence Fishburne. Isso foi um acerto de Lana, mostrando que o legado do personagem está intacto. A justificativa para essa versão repaginada de Morpheus é convincente e boa. E Yahya não decepciona.

Entre os novos nomes, Neil Patrick Harris e Jonathan Groff são gratas surpresas. A interpretação dos dois poderiam ser canastronas, mas ambos encontram o tom certo pra cada personagem. Destaque também para Jessica Henwick, que atua como fio condutor para o novo despertar de Neo. O filme também aquecerá o coração dos fãs de Sense8, com alguns rostos conhecidos participando do filme.

Matrix Resurrections não veio para revolucionar como em 1999. Enquanto a primeira trilogia foi uma metáfora sobre a transexualidade, o quarto filme é uma alegoria sobre a não-binaridade. Não existe pílula azul ou vermelha. As respostas estão dentro de você. É uma celebração à franquia Matrix e a todos esses personagens.

O final do filme deixa um sabor agridoce. Ele conseguirá tanto satisfazer quanto desagradar. A sensação é que faltou algo para que Matrix Resurrections fosse realmente necessário.

P.s: Há uma cena pós-crédito. Mas nada que garanta uma continuação do filme. É mais uma piada entre muitas de Lana Wachowski.

3

BOM

Matrix Resurrections não veio para revolucionar como em 1999. Enquanto a primeira trilogia foi uma metáfora sobre a transexualidade, o quarto filme é uma alegoria sobre a não-binaridade. Não existe pílula azul ou vermelha. As respostas estão dentro de você. É uma celebração à franquia Matrix e a todos esses personagens.