Crítica | Coisa Mais Linda: Segunda temporada

Coisa Mais Linda segunda temporada
Divulgação/Netflix

Coisa Mais Linda foi uma das grandes surpresas da Netflix em 2019, comprovando o valor das produções nacionais. Foi o pontapé inicial para que outras séries brasileiras ganhassem aval no serviço de streaming. Fato é que nenhuma produção conseguiu tanto êxito quanto Coisa Mais Linda. Com poucos episódios, a série foi capaz de explorar muitos temas, sendo todas exploradas com eficiência e deixando o público refletir sobre o machismo, racismo e feminicídio.

Sendo uma produção de época ambientada no início da década de 60, a série deixa claro que continuamos a falhar em pleno 2020. Eis que a segunda temporada não poderia chegar em momento mais propício, onde enfrentamos uma intensa luta contra as desigualdades.

Escrita por Heather Roth e Giuliano Cedroni, o primeiro episódio da segunda temporada de Coisa Mais Linda começa preenchendo as pontas soltas após a trágica noite do Ano Novo de 1959. O crime cometido contra Lígia (Fernanda Vasconcellos) deixa sequelas em Malu (Maria Casadevall), Thereza (Mel Lisboa) e Adélia (Pathy Dejesus).

Em seis episódios, o roteiro ágil explora os dilemas das três amigas. Malu precisa enfrentar o retorno do marido Pedro (Kiko Bertholini), que ameaça tomar o clube e ficar com a guarda do filho. O motivo é o puro ego machista. Ela não aceita que a esposa está seguindo a vida de forma independente e tendo sucesso como empreendedora ao lado de Adélia. Esta proporciona um dos melhores diálogos da série ao analisar o olhar racista de Pedro. Embora a década de 60 tenha sido rica musicalmente, a série mostra que havia um lado pouco explorado com profundidade. Era obrigatório que os homens assumissem uma posição hierárquica e que os negros eram as figuras marginalizadas.

Enquanto isso, Adélia se reaproxima de Nelson, que decide assumir a paternidade da menina Conceição. Isso causa um grande impacto no mundo de Nelson, já que um homem branco ser pai de uma garota negra era uma afronta para classe rica da zona sul carioca dos anos 60. Thereza não vê nenhum problema em ter Conceição próxima do marido. Contudo, sua realidade é bem diferente de Adélia. O roteiro é inteligente em explorar essa diferença de classes. Thereza não percebe o leve racismo estrutural quando começa a ensinar francês para Conceição, promete viagens de luxo para ela, e a menina logo começa a se portar como uma garota branca. Isso mexe com Adélia, que impõe mais uma lição de como é difícil ser mulher e negra nos anos 60. Falando em Adélia, sua família ganha mais destaque nessa temporada. Sua irmã Ivone (Larissa Nunes) possui um incrível talento como cantora, mas alguns traumas a impedem de sonhar com a carreira de artista.


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Thereza segue na luta da mulher por um maior espaço no mercado de trabalho. Ao largar o antigo emprego, ela consegue uma vaga como apresentadora de rádio e divide o programa com Wagner (Alejandro Claveaux), que não aceita de bom grado dividir as pautas com uma mulher. O trabalho na rádio faz Thereza ter voz, e essa voz pode ser ouvida por outras mulheres. Os episódios finais reservam um momento emocionante com Thereza e Malu honrando a memória de Fernanda. Uma mensagem que vale para todas as mulheres que sofrem em silêncio.

O ponto central da segunda temporada de Coisa Mais Linda está no arco envolvendo Fernanda e seu marido Guto. O relacionamento abusivo ocasionou em uma tragédia, que tenta ser contornada pelo olhar machista da sociedade, encarando a mulher apenas como uma figura submissa e que sua função é procriar e cuidar da casa. Fernanda queria cantar e mostrar o seu brilho para o mundo. Mas seu brilho foi ofuscado por um homem abusivo, egocêntrico e criado para ser um escroto de uma elite branca, pensando apenas em si mesmo.

A série ainda reserva algumas reviravoltas impactantes e um final pra deixar todo o público se questionando sobre o que realmente aconteceu naquele desfecho. Teremos que esperar 2021!

No mais, Coisa Mais Linda é a melhor série nacional da atualidade. Poucas produções foram capazes de dar voz às mulheres e aos problemas sociais que seguem enraizados. Em pleno 2020 deveríamos estar vendo Coisa Mais Linda como um passado distante. Mas estamos vendo a série como algo atual e que passou do tempo para dar um basta.

Os seis episódios da segunda temporada de Coisa Mais Linda estrearam no dia 19 de junho, na Netflix.

4

Ótimo

Coisa Mais Linda é a melhor série nacional da atualidade. Poucas produções foram capazes de dar voz às mulheres e aos problemas sociais que seguem enraizados. Em pleno 2020 deveríamos estar vendo Coisa Mais Linda como um passado distante. Mas estamos vendo a série como algo atual e que passou do tempo para dar um basta.

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